Contee é 1ª entidade ouvida sobre violência às escolas

Oitiva aconteceu na manhã desta segunda-feira (24). Questões trabalhistas foram destacadas

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Começaram, na manhã desta segunda-feira (24), as oitivas ao grupo de trabalho criado, no âmbito do MEC (Ministério da Educação), para enfrentamento à violência nas escolas e universidades. E a Contee foi a primeira entidade nacional a ser ouvida.

Participaram da reunião o coordenador-geral da Contee, Gilson Reis, e as dirigentes Madalena Guasco (Secretaria-Geral) e Margot Andras (Secretaria de Defesa das Diversidades, Direitos Humanos e Respeito às Etnias e Combate ao Racismo). Além deles, também estiveram presentes os dirigentes Cristina Castro (Secretaria de Relações Internacionais) e Leandro Batista (Secretaria de Assuntos Jurídicos), que já integram o GT do MEC.

A conversa foi conduzida pelo coordenador-geral de Políticas para a Juventude da Secadi (Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização de Jovens e Adultos, Diversidade e Inclusão), Yann Evanovick, que também coordena o GT. No encontro, chegou a levantar a possibilidade de a Contee compor a comissão de relatoria do grupo de trabalho.

O primeiro a falar pela Contee foi Gilson, que destacou duas questões a serem consideradas. “A escola não é um espaço apartado, mas um prolongamento das contradições que vivemos na sociedade. Isso impõe à escola uma série de problemas e a coloca nesse flanco cruzado”, pontuou.

“O governo e as instituições poderiam pensar em como fomentar, a partir das universidades públicas, um programa permanente de avaliação e pesquisa sobre o que acontece dentro das escolas.”

Precarização do trabalho

A segunda questão ressaltada pelo coordenador da Contee é a trabalhista. “A relação de trabalho no espaço escolar é extremamente conflituosa nos dias atuais. Todas as regras do trabalho aplicado ao setor produtivo, à indústria, são aplicadas à educação. No setor privado, para gerar lucro; no público, para fazer ajustes fiscais”, observou Gilson.

“Essa precarização do trabalho vai só aprofundar a crise. Não há outra saída que não [seja] pela valorização do trabalho. Ou a gente toca nisso como elemento estruturante ou vamos ver a situação piorar no cotidiano”, defendeu.

Ao longo da oitiva, a precarização também voltou a ser citada por Margot Andras e Leandro Batista. A dirigente apontou como problema a falta de vínculos sólidos dos trabalhadores da escola, principalmente na área da segurança, em que são extremamente afetados pela terceirização. “Temos que pensar na segurança dentro da escola como serviço de acolhimento”, considerou.

“Temos o perigo da mercantilização da educação, que já era uma realidade no setor privado e que cada vez mais afeta a escola pública”, completou Leandro, mais tarde. “Além disso, enfrentamos o sucateamento dos profissionais da educação. Estamos sendo pejotizados e terceirizados.”

Locus de disputa

“A escola foi colocada nos últimos anos como um locus de disputa, justamente porque ela forma subjetividades. E o que está em disputa é que tipo de subjetividade está sendo formada”, sintetizou a coordenadora da Secretaria-Geral da Contee, Madalena Guasco.

“Temos uma escola que tem como objetivo a formação da subjetividade democrática.” E, para Madalena, é contra esse tipo de subjetividade que estão os que disseminam o pânico e defendem o autoritarismo.

O enfrentamento é multidisciplinar e, na visão dela, algumas medidas são fundamentais. “A primeira é criar grupos de apoio dentro da escola que se reúnam para debater com aprofundamento determinados temas”, propôs. “Fundamentalmente, dentro da escola, a postura não pode ser punitiva, mas dialógica.”

Canais de acompanhamento e monitoramento

Outras propostas de Madalena são criar canais de acompanhamento e monitoramento e introduzir isso no currículo de forma concreta, seja no ensino básico, seja no superior. “É preciso que as escolas comecem a enfrentar a questão das plataformas e das fake news como tema de formação”.

A coordenadora da Secretaria de Defesa das Diversidades, Direitos Humanos e Respeito às Etnias e Combate ao Racismo, Margot Andras, salientou, por sua vez, que “essas crianças e adolescentes muitas vezes passam mais tempo dentro das escolas que em suas próprias casas”. E opinou que a psicopedagogia e orientação escolar são essenciais na capacidade “de identificar grupos e situações de conflitos”.

Já a coordenadora da Secretaria de Relações Internacionais, Cristina Castro, também destacou a importância da formação sobre fake news e o próprio uso da internet. “Muitas vezes as crianças das escolas públicas não conseguem acessar. Ou, quando conseguem, não conseguem verificar se a informação é verdadeira.”

Outro ponto, de acordo com ela, é o fato de que muitos desses estudantes crescem dentro de ambientes conservadores. “A escola é, sim, esse lugar dessa disputa democrática. E daí esse ataque tão grande às escolas.”

Táscia Souza

Imagem home: Reprodução/Freepik

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