O X da questão

A Contee divulga em seu portal o artigo da professora Silvia Barbara, publicado no site da Fepesp, que fala sobre o processo de privatização do ensino.

O X da questão

silvia rostoDiane Ravitch, professora da New York University, passou mais de trinta anos defendendo propostas para educação. Algumas copiadas no Brasil, com adaptações.

Ela faz parte dos chamados “neoconservadores” que influenciaram as políticas de educação nos governos Reagan, Bush (pai), Clinton e W.Bush desde meados dos anos 80.

Ravitch defendeu e contribuiu para a adoção de padrões de eficiência empresarial na gestão escolar, a definição de metas, os testes padronizados para medir a qualidade de ensino e a política de accountability, pela qual professores e escolas seriam premiados ou punidos, segundo o rendimento de seus alunos apurados pelos testes.

Para quem ainda não se reconheceu – guardadas as devidas proporções – algo semelhante à “qualidade total na educação”,ao sistema de bonificação nas escolas públicas estaduais de São Paulo e à enxurrada de testes (SAEB, SARESP, Prova Brasil, ENEM etc) que deveriam avaliar a qualidade de ensino.

A experiência americana foi mais radical. Lá, como aqui, os testes indicavam que as escolas privadas (ou de gestão privada) apresentavam resultados superiores às públicas.

As escolas com resultados satisfatórios seriam dotadas de recursos extras. As de baixo rendimento, punidas com medidas que iam da transferência à demissão dos professores e da advertência à privatização ou até fechamento de escolas.

A privatização consistia na criação das “charte schools”, escolas públicas com gestão privada (com dinheiro da Viúva, é claro). Em 2006, cerca de 1 milhão de alunos estudavam nas 4000 escolas em diversos estados americanos.

Criou-se um círculo vicioso. Pais preocupados podiam transferir os seus filhos da escola “nota baixa” para uma charte, o que agravava ainda mais a “seleção natural” a que as escolas estavam condenadas.

Em março de 2010, Ravitch lançou o livro The Death and Life of the Great American School System (A Morte e a Vida do Grande Sistema Escolar Americano), no qual denuncia a falência desse modelo e mostra que o tão propalado avanço não ocorreu.

A professora criticou a excessiva importância atribuída aos testes e a responsabilização dos professores por todas as mazelas da educação.

A ênfase nos testes fez com que as escolas se preocupassem mais no treinamento dos alunos para responderem a um único modelo de prova. Além disso, resultou num esvaziamento do currículo, submetido, ele também, ao que era exigido nos exames (que mediam principalmente habilidades em leitura e matemática)

Para a professora, o problema não estava tanto nas provas, mas no uso deturpado que se fez delas. Como conseqüência, algumas escolas foram criando macetes para se sair bem na fita, à semelhança de alguns exemplos recentes no ENEM.

Ao atribuir todo o peso dos resultados sobre os professores e as escolas, o modelo eximiu alunos e famílias de qualquer responsabilidade. Além disso, impôs um controle danoso sobre a atividade docente (não só sobre o seu trabalho: 95% das escolas públicas de gestão privada se recusam a contratar professores sindicalizados).

Ravitch está longe de ser modernosa, mas tem um olhar certeiro contra certas verdades que inundam a agenda política da educação. Merece ser lida no Brasil porque muitas das experiências americanas têm sido assimiladas aqui.

A Fundação Itaú Social, por exemplo, produziu um estudo no qual analisa as possibilidades de adoção, no Brasil, das mudanças implantadas no sistema de ensino de Nova Iorque, ícone das reformas educacionais americanas.

As idéias principais do livro foram sintetizadas por Ravitch no artigo Escolas privatizadas, desempenho pífio , publicado na edição de outubro do Le Monde Diplomatique (em português). Leitura indispensável.

Fonte: Fepesp

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