CTB homenageia sindicalistas vítimas da ditadura
Para relembrar as novas gerações das atrocidades cometidas pela ditadura civil-militar implantada no Brasil em 1964, a CTB promoveu nesta quarta-feira (14) emocionante ato em homenagem aos trabalhadores e trabalhadoras vítimas do regime militar. Com apoio da Fundação Maurício Grabois e do grupo de trabalho “Ditadura e Repressão aos Trabalhadores e ao Movimento Sindical” da Comissão Nacional da Verdade que apura os crimes cometidos durante o período.
A emoção tomou conta do Centro Cultural São Paulo quando todos cantaram o Hino Nacional brasileiro. Muito bonito de ver dezenas de pessoas reverenciando a luta de trabalhadores e trabalhadoras, muitos já de cabelos brancos, mas com um brilho nos olhos jovial com a certeza de ter feito história, aliás, pelo que se viu, continuam construuindo a bela história da luta dos trabalhadores da cidade e do campo.
Como disse Adilson Araújo, presidente da CTB, “de Ana Martins a Zezinho do Araguaia, a CTB presta esta homenagem aos trabalhadores e trabalhadoras que com sua abnegação propiciaram a chance de estarmos respirando liberdade por quase 30 anos”. A homenagem se estendeu a muitos sindicalistas mortos em combate, nos porões da ditadura ou assassinados por pistoleiros a mando de latifundiários. Por isso, impossível nominar todos esses heróis do povo brasileiro, mas a citação do líder sindical rural Expedito Ribeiro de Souza, “cabra marcado para morrer”, assassinado em 1991 e aos guerrilheiros do Araguaia covardemente assassinados por uma força de repressão descomunal.
A mestre de cerimônia do ato, Renata Mielle, leu texto contando a história recente dessa resistência e a cantora Railídia Carvalho, acompanhada pelos músicos Paulo Godoy e Ed Encarnação, interpretou repertório intrinsecamente ligado ao momento de resistência porque trabalhadores, estudantes, intelectuais e artistas se uniram pelo projeto comum de restabelecer a ordem democrática no país.
Mas isso não aconteceu sem forte repressão, onde muitos foram presos, torturados, banidos e até assassinados. Dessa forma o ato da CTB marca uma nova postura do sindicalismo brasileiro em avançar nas principais questões que mexem com a vida da classe trabalhadora. Para o operário paulista Aurélio Perez o assassinato de Santo Dias, em 1979, marcou o começo do fim da ditadura.
Mas como “a história é um carro alegre, que atropela indiferente todo aquele que a negue” (Chico Buarque/Pablo Milanés), a CTB não perde o bonde da história e no discurso de encerramento do ato, Adilson Araújo ressalta a importância de a classe trabalhadora lutar pelas reformas necessárias para o aprimoramento da democracia brasileira. A reforma política que proíba o financiamento empresarial das campanhas eleitorais, a reforma agrária para restituir a paz no campo, a urbana para garantir vida digna aos mais pobres, a reforma tributária que tire o peso das costas dos trabalhadores do custo do sistema financeiro improdutivo da economia e a campanha pela criação de uma lei de mídia que acabe com o monopólio do pensamento único dos barões da mídia que criminalizam os movimentos sociais e o sindical.
Mas o ato da CTB não teve tom de reverência cega ao passado. Porque uns prendem-se em excesso ao que passou e esquecem-se de viver o presente. Outros se ligam somente no momento e não estudam a história para compreender a vida e seguir em frente. Já a CTB no meio desses dois polos aprofunda com este ato o conhecimento da história, fincando pé no presente com olhos no futuro. Com “a certeza na frente e a história na mão”, como disse Geraldo Vandré em 1968, ano da greve dos metalúrgicos de Osasco (SP) e Contagem (MG).
Grande a emoção de ver tanta gente de cabelos brancos emocionar-se ao cantar A Internacional de braço levantado e punho cerrado, coma certeza do dever cumprido, mas coma sabedoria de que ainda há muito a se fazer: a perseverança para a construção da sociedade da classe trabalhadora, a sociedade socialista com as cores do Brasil.
Por Marcos Aurélio Ruy, do Portal CTB
Fotos: Cinthia Ribas