Bienal da UNE: educação artística ainda é desafio para escolas
Akemi Nitahara – Repórter da Agência Brasil Edição: Fábio Massalli
Apesar de ser obrigatória, a educação artística nas escolas de ensino fundamental e médio ainda é negligenciada pelo sistema escolar. A questão foi debatida ontem (4) na 9ª Bienal da União Nacional dos Estudantes (UNE).
A professora de música aposentada da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (Unirio) Ermelinda Paz Zanini lembra que o ensino obrigatório de música foi incluído nos currículos escolares nos anos 1960, mas em todas as mudanças de legislação, como as ocorridas nos anos 1980 e depois em 2008, a lei veio primeiro do que a estrutura escolar e a formação de docentes, que até hoje não está satisfatória.
“A Lei 11.769/2008 prevê que tínhamos três anos para colocar o ensino obrigatório da música nas escolas. E vocês perguntam: implementou? Daí a gente começa a levantar os problemas. Então, é importante dizer que as leis vieram sempre antes das providências que deveriam ser tomadas para a sua implementação”.
A professora de dança da Faculdade Angel Vianna, Márcia Feijó, acrescentou que ainda há muita dificuldade para levar o licenciado em artes para dentro das escolas, pois não há contingente de formados o suficiente nem de concursos para suprir a necessidade de professores de linguagens específicas. Para ela, é preciso ampliar o diálogo entre cultura e educação, para que a linguagem corporal possa contribuir mais sistematicamente na aprendizagem.
“No Brasil há registro pré-histórico do dançar por dançar, não está ligado a nenhum ritual. É muito interessante ver que o corpo brasileiro é dançante e, na escola, o professor tem que convencer o aluno de que dança é para todos. Então, quando a gente vê todas essas leis colocadas e essa necessidade de a cultura ser levada à escola, digo que a gente precisa fazer um diálogo entre o Plano Nacional de Cultura e o Plano Nacional de Educação, porque eles são muito excludentes”.
Para o professor de pedagogia do teatro na Universidade Federal de Ouro Preto Ernesto Valença, é preciso mudar a visão que se tem de escola de uma forma geral, pois ela não atrai o estudante. “Os conteúdos não mobilizam como o mundo lá fora tem mobilizado”.
Outro problema apresentado pelos três debatedores foi a prática do professor generalista, que dá aulas de todas a linguagens, independentemente de sua formação específica. Além disso, foi lembrada a importância da educação continuada do docente, em um mundo que não para de se transformar.