Lula propõe união de presidentes sul-americanos contra a extrema-direita

Há certo consenso de que a situação econômica e social da América do Sul estimule o surgimento de alternativas eleitorais extremistas

Com as seguidas vitórias da direita e o avanço da extrema-direita na América do Sul, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) acredita ser necessário criar uma frente ampla e democrática entre os presidentes da região para impedir uma escalada autoritária. A data para ensaiar essa frente é 30 de maio. Lula havia convidado chefes de Estado da região a Brasília, nesse dia, para debater o relançamento da Unasul (União de Nações Sul-Americanas). A nova conjuntura, imposta após as recentes eleições no continente, forçará um ajuste na pauta do encontro.

Embora líderes de esquerda sigam à frente das maiores nações do continente, é inegável o crescimento da direita e da extrema-direita como forças político-eleitorais. Em 30 de abril, o economista Santiago Peña, do Partido Colorado, elegeu-se presidente do Paraguai – seu mandato será de cinco anos. Embora as pesquisas previssem uma disputa mais acirrada entre Peña e Efraín Alegre, de centro-esquerda, as urnas deram uma vantagem de mais de 15 pontos percentuais para o presidente eleito.

Igualmente surpreendente foi o desempenho do ex-senador Paraguayo “Payo” Cubas, do ultradireitista Partido Cruzada Nacional. Com quase 23% dos votos, o “Bolsonaro do Paraguai” terminou a eleição em terceiro lugar e liderou protestos sobre uma suposta fraude na votação. Na sexta-feira (5), foi preso de forma preventiva por “perturbação da tranquilidade pública”. Na campanha, autoproclamando-se “candidato antissistema”, Cubas chegou a pedir a morte dos 100 mil brasileiros que vivem no Paraguai.

Em outro revés para a esquerda, o Partido Republicano, também de extrema-direita, foi o mais votado nas eleições de domingo (7) para o Conselho Constituinte do Chile. Os mais de 35% dos votos garantiram à legenda 22 dos 51 deputados que ficarão responsáveis por redigir uma nova Constituição para os chilenos.

Atual presidente do país, Gabriel Boric viu sua coalizão, a Unidade para o Chile, de esquerda, ficar com apenas 28% dos votos, elegendo 17 parlamentares. Eram necessários 21 para que o bloco tivesse direito a veto durante o processo constituinte. As 11 vagas restantes ficaram com o direitista Chile Seguro, que recebeu 21,5% dos votos. Com esse desenho, é improvável que as forças progressistas consigam grandes avanços constitucionais.

A extrema-direita também dá sinais de robustez na Argentina, na Bolívia, na Colômbia e no Peru – países que terão eleições neste ano. Daí a decisão de Lula de converter a reunião sobre a Unasul num debate de fundo sobre as perspectivas e os desafios políticos da região.

“Fontes diplomáticas” ouvidas pelo jornal O Globo confirmam a movimentação de Lula: “Embora a decisão de relançar a Unasul continue de pé e seja considerada uma prioridade pelo governo brasileiro, o encontro de chefes de Estado sul-americanos será, também, a oportunidade para que todos conversem sobre um fenômeno político global, que está ganhando fôlego na região”.

Há certo consenso de que a situação econômica e social da América do Sul estimule o surgimento de alternativas eleitorais extremistas. “O que está acontecendo na América Latina é, essencialmente, uma onda antioficialista. Existe muita raiva e desconfiança em relação aos que estão no poder, sejam de direita ou de esquerda”, acredita Steven Levitsky, professor de Harvard e autor de Como Morrem as Democracias.

Segundo ele, uma “nova direita”, mais radical, substituiu a “direita liberal” no continente. “O problema destes novos outsiders é que eles falam abertamente contra a democracia”, diz. Essa tendência, a seu ver, não se resume à América do Sul: “Nos Estados Unidos, o Partido Republicano – que obviamente não é um outsider – não está comprometido com o regime democrático”.

Vermelho

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