Mães solo, racismo estrutural e exclusão no topo

Pesquisas recentes revelam que 43% das mães solo sofrem abuso no trabalho; 78% dessas mulheres são negras e apenas 17,4% das presidências de empresas são ocupadas por mulheres

Enquanto as mulheres continuam lutando por espaço digno no mercado de trabalho, os dados mais recentes sobre desigualdade de gênero no Brasil escancaram o quanto ainda estamos distantes de uma sociedade verdadeiramente justa e igualitária — especialmente quando a análise cruza gênero, raça e classe.

Uma pesquisa divulgada nesta semana pela MindMiners em parceria com o Universa Talks revelou uma realidade alarmante para milhões de brasileiras que criam seus filhos sozinhas: 43% das mães solo já passaram por situações de abuso ou desrespeito em seus empregos. Entre mulheres em outros contextos maternos, o índice é de 37%. O dado reforça o que muitas trabalhadoras já sabem na prática: ser mãe e mulher no Brasil é, frequentemente, carregar o peso da responsabilidade familiar nas costas e, ainda assim, ser alvo de desvalorização, piadas misóginas e olhares de reprovação no ambiente profissional.

O cenário é ainda mais grave quando se considera a cor da pele. Segundo o Censo de 2022, mais de 10,3 milhões de lares são chefiados por mulheres que vivem com seus filhos — e, conforme levantamento da Fundação Getúlio Vargas, 78% dessas chefes de família são negras. Entre essas mulheres, 72% vivem abaixo da linha da pobreza, o que demonstra como o racismo estrutural aprofunda a desigualdade de gênero.

Desigualdade no topo das empresas

No outro extremo da pirâmide, uma nova edição da pesquisa “Panorama Mulheres 2025”, organizada pelo Instituto Talenses Group e pelo Núcleo de Estudos de Gênero do Insper, revela que apenas 17,4% das presidências das grandes empresas brasileiras são ocupadas por mulheres. Nas diretorias e conselhos administrativos, os números também não passam de 30%. E quando se observa quem são essas poucas mulheres que chegam ao topo, a maioria é branca. Mulheres negras, indígenas e com deficiência continuam praticamente invisíveis nos cargos de liderança.

A Contee vê com grande preocupação essa estagnação. É inadmissível que, em pleno 2025, mulheres — especialmente as negras e mães — ainda enfrentem obstáculos tão profundos para ascender profissionalmente. Mais do que uma questão de representatividade, trata-se de justiça social, de reparação histórica e de garantir que as estruturas do mundo do trabalho sejam realmente democráticas e inclusivas.

A urgência de mudar estruturas

O discurso da diversidade não pode ser apenas uma formalidade. A pesquisa mostra que poucas empresas têm programas efetivos para formar lideranças femininas em áreas estratégicas como Finanças e Operações, geralmente dominadas por homens. A equidade não será alcançada com ações pontuais ou discursos vazios — ela exige investimento real, políticas públicas efetivas, regulamentação e fiscalização.

A Contee reforça que é dever do Estado, das empresas e das instituições públicas e privadas promover a equidade de gênero com ações concretas. Isso inclui garantir condições dignas de trabalho para mães solo, combater o assédio e o preconceito no ambiente profissional, promover mulheres a cargos de decisão e desenvolver políticas voltadas à inclusão de mulheres negras, indígenas e com deficiência.

Igualdade de gênero é compromisso com o futuro

A luta por igualdade de gênero não é uma pauta identitária isolada — é um elemento essencial para o desenvolvimento do país. Não há justiça social, não há democracia plena, enquanto as mulheres, que são maioria da população brasileira, continuarem sendo minoria nos espaços de decisão.

A Contee se posiciona firmemente ao lado das trabalhadoras brasileiras e reforça: lutar por igualdade de gênero é lutar por um mundo do trabalho mais humano, mais justo e mais digno para todas as pessoas. Que essa luta esteja em cada sala de aula, em cada sindicato, em cada empresa — e no topo de todas as estruturas de poder.

Com informações do Portal Vermelho

Por Romênia Mariani

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