MEC apresenta o IDEB (e esquece dos professores)

Hoje, o Ministro da Educação apresentou os resultados do IDEB (a Prova Brasil em si, ficou de fora na apresentação). O que se viu foi um Ministro centralizador que não deixou a equipe se manifestar em nenhum momento durante a apresentação dos dados. Mesmo na fase das perguntas da imprensa, não fosse a habilidade da repórter do Estado de SP fazendo uma pergunta específica para a presidenta do INEP, a equipe estaria muda até o final da entrevista, condenada a passar bilhetinhos e cochichar no ouvido do Ministro para instruí-lo nas respostas.

No entanto, há que se dizer que o INEP, em relação ao IDEB, elaborou um resumo dos dados muito melhor do que até agora era feito. Porém, a nova versão não abrange os dados da Prova Brasil o que impede uma série de outras análises mais interessantes. Com isso não apresenta dados de nível socioeconômico e não desagrega dados por raça, por alunos pobres X ricos, gênero e outros recortes indispensáveis para entender a educação brasileira. Ajuda, mas não melhora muito.

Quanto à Prova Brasil somente foi disponibilizado, no site do INEP, um powerpoint com um resumo dos dados que está longe de poder ser considerado um relatório da edição e não resolve as demandas mencionadas.

Baixe o resumo dos dados do IDEB produzido pelo INEP.

Baixe o powerpoint sobre a Prova Brasil.

O tom da apresentação foi aquele da catástrofe. A senha está dada: a mídia deverá nos próximos dias entoar a cantiga de uma profunda crise no ensino médio brasileiro que será redimida pela ação do MEC propondo a reforma do ensino médio.  (Veja aqui e aqui). E o Ministro já adiantou: ou o Congresso aprova o projeto de reforma logo ou haverá uma MP – medida provisória – liberando o governo para começar a reforma. Tudo justificado nas notas do IDEB.

Como afirma Daniel Cara:

“As soluções para a crise do ensino médio que surgirão no cenário para o público em geral devem desfilar vestidas de inovação: é mais do mesmo”, critica Daniel Cara, coordenador da Campanha Nacional pelo Direito à Educação e blogueiro do UOL. “No entanto, novidade mesmo seria valorizar os professores, valorizar boa pesquisa pedagógica sobre o ensino médio, além de uma proposta de interação com os estudantes.”

Porém, a cabeça do MEC é a da responsabilização – vale dizer, a fixação pelos “resultados”. O que importou o tempo todo para o Ministro é se a meta foi atingida e não se as redes melhoraram em relação ao ano anterior, se houve progresso. Enfatizou-se que apenas poucos estados atingiram a meta, não importando se houve ou não progresso nos estados. É a visão da responsabilização olhando para os resultados e não para o esforço. Esforço que não atinge meta, não conta. Ou você é perdedor ou ganhador: a lógica do mercado.

É como se obter resultados fosse uma questão de vontade e união de todos (pela educação). Falou-se em MP, falou-se em Consed e Undime, ou seja, nos Secretários de Educação – estaduais e municipais – mas não se disse uma palavra sobre um dos principais atores da educação brasileira: os professores. Não foram uma única vez lembrados pelo Ministro e seus assessores. Nenhum estímulo, nem apelo. São meros subordinados dos Secretários de Educação.

A lógica é a da pressão via escala hierárquica. O que conta é a gestão – tese central para os reformadores empresariais. Os demais fatores do processo educativo, em especial aqueles que atingem 60% de influência sobre o desempenho dos estudantes, também não foram lembrados.

O que a reforma empresarial se esquece, ou não quer levar em conta, é que os testes revelam muito mais o nível socioeconômico dos estudantes. Portanto, mudanças estruturais como quer o MEC são coadjuvantes de outras que não estão sendo consideradas, como bem aponta Daniel Cara. E pressão sobre as redes via Secretários de Educação, não fará melhorar a escola de forma consistente e duradoura.

Dados do Ideb para consulta  aqui.

Do site Avaliação Educacional

Artigos relacionados

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Botão Voltar ao topo