Programa internacional seleciona iniciativa brasileira que prevê criação de sistema de educação pública antirracista

O programa foi proposto pelas seis organizações como parte do Desafio de Equidade Racial 2030, da Fundação W.K. Kellogg, que prevê investimentos de US$ 90 milhões em soluções para os maiores desafios do mundo, como desigualdade racial e de gênero

A Fundação W.K. Kellogg acaba de anunciar dez projetos finalistas para o Desafio de Equidade Racial 2030, uma chamada aberta e mundial, de soluções inovadoras, com o propósito de criar um futuro de condições mais igualitárias a crianças, famílias e comunidades em todo o globo. Entre os dez finalistas, figura o primeiro sistema de educação pública antirracista do mundo, proposto por seis organizações que uniram seus esforços no combate a discriminação racial na educação.

De acordo com o anúncio internacional realizado nesta terça-feira pela Fundação W. K. Kellogg, ao todo US $90 milhões serão concedidos para o investimento em organizações do campo de defesa de direitos humanos que promovem ações locais transformadoras e plurais de valorização das contribuições da população negra e dos povos indígenas nas áreas social, econômica, política, entre outras.

O projeto brasileiro é liderado pelo autointitulado Grupo Brasil, composto pela ActionAid, Ação Educativa, Campanha Nacional pelo Direito à Educação, CONAQ (Coordenação Nacional de Articulação das Comunidades Negras Rurais Quilombolas), Geledés Instituto da Mulher Negra e UNEafro Brasil.

“Como diz Paulo Freire, precisamos acabar com a distância entre o que se diz e o que se faz. O discurso da educação antirracista tem crescido na opinião pública e na sociedade, mas estamos ainda distantes de tornar isso realidade. Esse projeto deverá impulsionar essa revolução por meio de uma união de esforços de entidades profundamente comprometidas com essa agenda”, afirmou Andressa Pellanda, coordenadora geral da Campanha Nacional pelo Direito à Educação.

O desafio recebeu inscrições de 72 países e as candidaturas foram avaliadas durante um processo de revisão de cinco meses – envolvendo especialistas multidisciplinares de todo o mundo – com base em quatro eixos: o caráter revolucionário, o critério equitativo, a ousadia e, por último, ser realizável.

Juntas, as seis organizações proponentes pretendem conciliar conhecimentos e mobilizar ações que envolvam a juventude, movimentos negros e educacionais em um processo que desencadeie sensibilização em todo território nacional. “Estamos muito felizes por fazer parte dos dez finalistas selecionados”, afirma Ana Paula Brandão, Diretora de Políticas e Programas da ActionAid.

“Especialmente neste momento tão delicado para a agenda de direitos humanos no Brasil, é uma conquista de magnitude imensurável, um reconhecimento histórico da produção dos movimentos negros e de educação na construção das diretrizes de uma educação antirracista”, defende Suelaine Carneiro, Coordenadora de Educação e Pesquisa do Geledés Instituto da Mulher Negra.

O desenho da proposta criada pelo Grupo Brasil é bastante ousado e prevê um plano nacional de educação antirracista. As ações têm em sua essência a apuração de dados para a geração de estudos e pesquisas, propõem mobilização de atores do campo – inclusive parlamentares – e ampla difusão entre diferentes organizações da sociedade civil. “Ousado, como exigido pela chamada da Fundação W.K. Kellogg, mas factível”, reforça a Diretora de Políticas e Programas da ActionAid.

La June Montgomery Tabron, presidente e CEO da Fundação W.K. Kellogg, explica que a resposta deste Desafio demonstrou a urgência da igualdade racial em quase todos os cantos do mundo. “Cada um desses dez finalistas, visionários, representa um profundo compromisso com a comunidade e a liderança locais”, disse no comunicado divulgado nesta terça-feira. “Estamos orgulhosos de estabelecer parcerias e revelar suas soluções ousadas e revolucionárias para promover a equidade racial na próxima década”, completa ela.

O Desafio de Equidade Racial 2030 é administrado pela Lever for Change, uma afiliada da John D. and Catherine T. MacArthur Foundation, que auxilia doadores a encontrar e financiar soluções para os maiores desafios do mundo. Cada uma das 10 equipes finalistas receberá um subsídio de planejamento de 1 milhão de dólares por um ano, que inclui nove meses de apoio à capacitação para desenvolver ainda mais seus projetos e fortalecer suas aplicações.

Entre os finalistas, cinco prêmios totalizando 80 milhões de dólares serão anunciados em 2022. Três premiados receberão 20 milhões de dólares cada um e outros dois premiados, 10 milhões de dólares. Os subsídios serão pagos ao longo de oito anos para coincidir com os 100 anos da Fundação W.K. Kellogg, em 2030.

“Os finalistas do Desafio de Equidade Racial 2030 propuseram ideias inspiradoras para corrigir uma das questões mais urgentes de nosso tempo”, disse Cecilia Conrad, CEO da Lever for Change. “Ao formar parceria com candidatos com ideias semelhantes, essas equipes têm o potencial de desenvolver o trabalho umas das outras e alcançar mudanças transformadoras no mundo. Estamos ansiosos para acompanhar seu progresso”.

O trabalho dos dez projetos finalistas reflete a complexidade em alcançar a equidade racial e as mudanças estruturais que são necessárias para efetuar uma mudança significativa de longo prazo, incluindo acesso a oportunidades econômicas, governança e justiça aprimoradas e bem-estar social.

Mais informações sobre o Desafio de Equidade Racial 2030 e dos 10 projetos finalistas, acesse: https://racialequity2030.org.

Campanha

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