Texto em homenagem à Ministra do Tribunal Superior do Trabalho Delaíde Miranda Arantes

Por José Geraldo de Santana Oliveira*

A poetisa Cecília Meireles, com a sua sensibilidade incomum, nos dá, em poucas palavras, o mais sábio conceito de liberdade que se conhece, quando diz:

“Liberdade, essa palavra que o sonho humano alimenta, que não há ninguém que explique e ninguém que não entenda”.

Liberdade é o bem mais precioso e valoroso do ser humano, é a razão primeira de todos, sobrepondo-se a todas as convenções sociais. Não há um só ser humano que não a almeje e que não a busque, de forma plena, com sofreguidão.

O mesmo se pode dizer da esperança, que é o móvel que move o ser humano, em busca da liberdade plena.

Com certeza, quem mais bem retratou o significado da esperança foi o poeta alemão, do século XIX, Friedrich Schiller, em seu magnífico e imortal poema que tem o nome dela, e que se acha escrito com as seguintes letras indeléveis, conforme a belíssima tradução de Rainer Patriota, publicada na Revista do Conselho Estadual de Cultura do Rio Grande do Norte:

Na fala e no sonho dos homens palpita a ânsia

Por dias melhores no porvir;

Terras abençoadas de ventura e abundância

Todos vivem, dia e noite, a perseguir.

O mundo envelhece, o mundo se renova

E o homem não se cansa de esperar a boa-nova.

A esperança entra na vida e dela não sai

Toma de assalto o moço em sua alegria.

E a criança ao seu encontro também vai.

Com o velho não se extinguirá na cova fria;

Pois mesmo ante o corpo morto que descansa,

Planta o homem, em seu túmulo, a esperança.

Não é delírio, aduladora quimera

Urdida no cérebro dos alucinados.

Mas reflexão que o coração pondera:

Para o melhor é que fomos gerados.

E por ter a voz interior sempre razão,

A alma que assim espera, não espera em vão.

Como nos ensinam os citados poetas: liberdade e esperança são o pulsar da vida. Vida plena, que se enaltece, que floresce e que se renova, a cada dia. O contrário, ou seja, a falta de liberdade, em qualquer grau e dimensão, e a desesperança, representam o alvorecer da morte; e da pior morte, que é a do livre agir e movimentar-se e da mente, ou, para muitos, do espírito.

O nascimento de cada criança, como sabiamente nos ensina o romancista mineiro Guimarães Rosa, representa o recomeço do mundo; que também é da vida e da esperança, acrescentamos.

Pois bem. Ao 1º de maio de 1952, lá na pequena cidade de Pontalina, no interior do Estado de Goiás, dentre as muitas meninas que nela nasceram, naquele dia, uma mereceu especial destaque, porque, apesar das pedras que se interpuseram no seu caminho, ao romper de sua vida, esta reservou-lhe o pedestal.

Essa menina, nascida e criada em berço simples, soube, desde a mais tenra idade, o real significado da metáfora que diz: ganhar a vida com o suor de seu rosto. Foi, honrada e honestamente, doméstica e secretária de escritório. Ao depois, com muito sacrifício, determinação e coragem, ascendeu-se à profissão de advogada, a qual exerceu com galhardia e sem reparos, durante trinta anos, dos quais muitos foram dedicados aos interesses e aos anseios dos trabalhadores em estabelecimentos de ensino.

Ao final, como coroamento de sua brilhante e irretocável história de vida, conseguiu a assunção ao mais alto e cobiçado cargo da Justiça do Trabalho: a de ministra do Tribunal Superior do Trabalho.

Essa menina recebeu o nome de pia de Delaíde Alves Miranda, que bem deveria ser acrescido dos predicados de simplicidade, simpatia, empatia, solidariedade, decência e plena cumplicidade com as causas maiores da vida; daquelas a que nos referimos ao início: liberdade e esperança.

A tímida  Delaíde fez da esperança o seu primeiro e maior alimento cotidiano, fazendo-o sempre na certeza de que o poeta Friedrich Schiller tinha razão quando dizia que a alma que assim espera, não espera em vão.

A sua imaginação e a sua esperança romperam fronteiras, geográficas e sociais, e ganharam o mundo. O mundo das merecidas realizações e conquistas, que é, em última análise, o mundo da liberdade; da liberdade, que ainda não é plena por não haver alcançado o coletivo, como ela deseja e busca.

Agora, com a sua assunção ao cargo de ministra do TST, não é só a sempre menina Delaíde que tem e renova a sua esperança. Somos todos, os que cultuamos a justiça como bem maior do Estado democrático de direito, e a união indissolúvel dela com o direito, que renovamos as nossas esperanças, de que com ela, no TST, a distribuição de justiça social, por este Tribunal, será consideravelmente fortalecida e reforçada; pois, com ela, o Tribunal se renova, em busca da boa nova, repita-se, a justiça social ao alcance de todos.

Urge que suplantemos a perversa lógica de que tudo que é forte é justo, substituindo-a por aquela, com cunho social e humanístico, segundo a qual tudo que é justo tem de ser forte. É o que esperamos do judiciário trabalhista, com a inestimável e incomensurável contribuição da Ministra Delaíde.

Os trabalhadores em estabelecimentos de ensino tivemos o privilégio, que não foi concedido a todos, de contarmos com a Ministra Delaíde, quando no exercício da advocacia, como assessora de nossas justas e incontestáveis causas. O que nos orgulha e nos engrandece.

A Ministra Delaíde, que é, a um só tempo, mulher, companheira, mãe, avó, amiga, professora e ministra, acha-se devidamente autorizada a fazer suas as palavras do poeta romano Horácio, ditas há mais de dois mil anos, mas que se mantêm atualíssimas, e que vaticinam: “ Non omnis moriar”,     que significam “eu não morrerei de todo”. Isto porque as suas obras biológicas, físicas, éticas, morais, profissionais e judiciais serão preservadas, por todo o sempre, como bem fazer e como espelho para todos os que somos amantes da vida plena.

Assim o será.

* Dr. José Geraldo de Santana Oliveira é Consultor Jurídico da CONTEE e da Fitrae-BC, e assessor do Sinpro-GO, do Sintrae-MS e do Sintrae-MT.

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