Websérie “Andorinha”: Voos que propagam o legado de Abdias Nascimento

Nesta segunda-feira (16), o YouTube ganhou um presente valioso: a estreia da websérie “Andorinha”, produção do Instituto de Pesquisas e Estudos Afro-Brasileiros (Ipeafro). A série nos convida a embarcar numa jornada pelos caminhos da memória e da resistência, celebrando Abdias Nascimento — poeta, dramaturgo, artista plástico e ativista incansável — cuja vida foi uma luta constante contra o racismo e pela afirmação da cultura negra.

Em sete episódios, “Andorinha” alça voos para os lugares onde esse legado pulsa: acervos, livros, obras de arte e imagens que contam histórias de coragem e ancestralidade. A série também nos leva a exposições emblemáticas, como a do Museu Inhotim, revelando o empenho coletivo para manter viva a voz de um dos maiores expoentes da cultura negra no Brasil.

O primeiro episódio está disponível no canal do Ipeafro no YouTube, e novos capítulos serão lançados todas as segundas-feiras.

Uma boa pedida para os leitores da Contee aproveitar o feriado de Corpus Chisti que vem chegando. Vamos voar junto nessa trajetória de conhecimento e resistência, valorizando a voz forte de Abdias Nascimento — um eco de justiça e igualdade que se propaga e inspira gerações.

Saiba mais sobre Abdias Nascimento

Abdias do Nascimento nasceu em 1914 e, desde criança, enfrentou o peso do preconceito e da exclusão. Mas a dor das ofensas se tornou combustível para uma vida dedicada a transformar realidades.

Na década de 1930, participou da Frente Negra Brasileira, entendendo que a afirmação da identidade negra seria a chave para a liberdade e a dignidade. Em 1944, fundou o Teatro Experimental do Negro, um espaço revolucionário onde homens e mulheres negros — muitos marginalizados — puderam alfabetizar-se, descobrir suas vozes e brilhar nos palcos, contando suas próprias histórias.

Esse teatro se tornou um palco de transformação, formando artistas como Ruth de Souza e Milton Gonçalves, que carregaram a tocha da esperança e da mudança.

Mas a trajetória de Abdias ultrapassou as artes. Exilado durante a ditadura, manteve viva a chama da luta. De volta ao Brasil, foi deputado federal e senador, onde defendeu políticas afirmativas que abriram portas para milhares de brasileiros negros.

Em 2006, com emoção, celebrou a adoção das cotas raciais nas universidades — vitória de uma luta longa, construída com muita garra e determinação.

Abdias do Nascimento é muito mais que uma referência histórica: é símbolo do bom combate em defesa da justiça social, da liberdade e igualdade no Brasil.

Veja só a grandeza e força da poesia de Abdias do Nascimento:

O SANGUE E A ESPERANÇA

Corre corre o sangue nas veias
Rola rola o grão das areias
Só não corre só não rola a esperança
Do negro órfão que só corre e cansa

Cansa do eito corre das correntes
Corre e cansa do bote das serpentes
Só não corre só não cansa de amar
O amor da Mãe-África no além-mar

Além-mar das águas e da alegria
Mar-além do axé nativo que procria
Aqui é o mar-aquém do desamor frio
Aquém-mar do ódio do destino sombrio

Sombrio corre o sangue derramado
No mar-aquém de tanta luta devotado
Mas o sangue continua rubro a ferver
Inspirado nos Orixá que nos faz crescer

Crescer na esperança do aquém e do além
Do continente e da pele de alguém
Lutar é crescer no além e no aquém
Afirmando a liberdade da raça amém

Que os voos de Abdias Nascimento cheguem a todos os cantos…

Por Romênia Mariani

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