Sobre Bolsonaro, o Joaquim Silvério do século XXI

Com a licença de Cecília Meireles, o consultor jurídico da Contee, José Geraldo de Santana Oliveira, parafraseia trecho do Romanceiro da Inconfidência para bem retratar quem é Bolsonaro e seu desastroso governo, o mais medonho dos 200 anos de história do Brasil independente

Por José Geraldo de Santana Oliveira*

A imortal poeta Cecília Meireles, em seu atemporal e igualmente eterno Romanceiro da Inconfidência, no “Romance XXXIV ou de Joaquim Silvério”, põe em seu devido lugar o caricato traidor da Inconfidência, sem par no quesito traição até a ascensão de Bolsonaro ao mais alto cargo da República.

Cecília o faz do seguinte modo:

 

Melhor negócio que Judas

fazes tu, Joaquim Silvério:

que ele traiu Jesus Cristo,

tu trais um simples Alferes.

Recebeu trinta dinheiros

e tu muitas coisas pedes:

pensão para toda a vida,

perdão para quanto deves,

comenda para o pescoço,

honras, glórias, privilégios.

E andas tão bem na cobrança

que quase tudo recebes!

 

Melhor negócio que Judas

fazes tu, Joaquim Silvério!

Pois ele encontra remorso,

coisa que não te acomete.

Ele topa uma figueira,

tu calmamente envelheces,

orgulhoso e impenitente,

com teus sombrios mistérios.

(Pelos caminhos do mundo,

nenhum destino se perde:

Há os grandes sonhos dos homens,

e a surda força dos vermes.)”.

Com a devida licença dessa incomparável poeta, pode-se fazer intertexto com o referido Romance para mais bem retratar quem é Bolsonaro e seu desastroso governo, sem dúvida o mais medonho e teratológico dos 200 anos de história do Brasil independente, que seria mais ou menos assim:

Mais vil que Joaquim Silvério, és tu, Bolsonaro: ele traiu um símbolo e um sonho, tu trais a liberdade (que já não é apenas um sonho) e a ordem democrática (há mais de 30 anos, realidade). Ele traiu um Alferes (inconfidente), tu trais uma nação.

Ele pediu, em troca de sua traição, pensão para toda vida, perdão para quanto devia, comenda para o pescoço, honras, glórias e privilégios; tu pedes titularidade absoluta do Brasil, salvo conduto eterno para teus incontáveis e hediondos crimes, ignominioso título de mito quando não passas de fascista embusteiro, e licença para exterminar seus opositores, nada menos que o Brasil e a esmagadora maioria dos/as brasileiros/as.

Mais vil que Joaquim Silvério, és tu, Bolsonaro! Após trair o símbolo, o sonho e o Alferes, ele recolheu-se à sua insignificância e foi gozar de seus sórdidos privilégios. E, tu, queres a eternização na condução do Brasil para o abismo e as trevas.

Não te esqueças, Bolsonaro, de que os grandes sonhos não são traídos pelo destino; sendo que, no momento, o maior sonho dos/as brasileiros/as que repudiam teu malfazejo governo a esmagadora maioria é do te enviar

para o lixo da história, a partir de 1º de janeiro de 2023. Contra eles, não pode a surda força dos vermes, monstruosamente encarnada por ti.

*José Geraldo de Santana Oliveira é consultor jurídico da Contee

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