Bolsonaro usa encontro com embaixadores para atacar, sem provas, TSE, STF e urnas

Mais um vexame do presidente da República. Embaixadores entraram mudos e saíram calados. Eles foram orientados apenas a escutar para entender melhor e sem filtros ou mediações a “demanda” do chefe do Executivo em relação ao sistema eleitoral brasileiro

O presidente Jair Bolsonaro (PL), candidato à reeleição, repetiu a tese dele, nunca comprovada, de que o sistema eleitoral brasileiro é passível de fraudes. Isso ocorreu na reunião com embaixadores estrangeiros na tarde desta segunda-feira (18), no Palácio da Alvorada. Foram contabilizados ao menos 70 diplomatas.

No encontro, ele citou vídeos descontextualizados e versões já desmentidas pela Justiça Eleitoral. Não apresentou nada de novo na cantilena contra as urnas eletrônicas.

Bolsonaro, o mandrião, não tem o que fazer. Ao invés de se concentrar em reduzir a profunda crise por que passa o País, investe nessas agendas sem futuro. Pior para ele, que nada ganha com isso. Ao contrário.

Discurso golpista

“Eu sou acusado o tempo todo de querer dar o golpe, mas estou questionando antes porque temos tempo ainda de resolver esse problema”, afirmou o presidente a embaixadores ao apresentar PowerPoint com as desconfianças dele e ataques a ministros do STF (Supremo Tribunal Federal).

Bolsonaro voltou a apresentar versão distorcida de inquérito da Polícia Federal para sustentar o discurso de colocar em dúvida o processo eleitoral. Segundo ele, hackers ficaram por 8 meses dentro dos computadores do TSE e tiveram acesso à senha de um ministro da Corte.

“Eu sou presidente da República e fico envergonhado de falar isso aqui.” A Corte Eleitoral já se manifestou sobre o caso atestando que a investigação não concluiu por fraude nas eleições de 2018, como Bolsonaro sustentou de novo nesta segunda-feira.

O fato é que a invasão foi ao sistema interno do TSE (Tribunal Superior Eleitoral). Isto é, não teve qualquer implicação na segurança das urnas eletrônicas, que não são interligadas em rede.

Foto: Clauber Cleber Caetano/PR/Fotos Públicas

Compilado de declarações de ministros

Aos embaixadores, que escutaram a fala de Bolsonaro impassíveis, ele alegou que tudo o que apresenta está documentado. Mas apresentou apenas compilado de declarações de ministros e trechos fora do contexto da apuração da PF.

“O que eu mais quero por ocasião das eleições é a transparência. Queremos que o ganhador das eleições seja aquele que foi votado.” O PowerPoint tinha título com erro de ortografia em inglês. Ao invés de briefing, estava grafado “brienfing”. A falha foi ironizada na internet.

Até nisso o governo Bolsonaro passa vergonha, pois se trata de gestão desastrosa e despreocupada em acertar minimamente.

23 países que usam urnas com tecnologia eletrônica

O presidente argumentou que apenas dois países do mundo usam o sistema eleitoral semelhante ao brasileiro, o que não é verdadeiro.

Segundo informou o TSE, o Idea International (Instituto Internacional para a Democracia e a Assistência Social) mapeou 23 países que usam urnas com tecnologia eletrônica para eleições gerais. Outros 18 adotam o modelo em eleições regionais. “Entre os países estão o Canadá, a Índia e a França, além dos Estados Unidos, que têm urnas eletrônicas em alguns estados”, informou o TSE.

Conversa fiada e mais mentiras

No encontro, Bolsonaro falou num suposto risco de instabilidade no País, respaldado pelas teorias conspiracionistas que apresenta. “Sei que os senhores querem estabilidade democrática e ela só será conseguida com eleições transparentes”, afirmou. “Queremos corrigir falhas, transparências, queremos democracia de verdade”, acrescentou.

A impressão que Bolsonaro passa é que vive em realidade virtual ou paralela. Pesquisa recente, do Datafolha, mostrou que mesmo com os ataques do chefe do Poder Executivo, 73% dos brasileiros confiam na urna eletrônica.

A pesquisa foi divulgada no final de maio e expôs que, desse total de 73% dos entrevistados que responderam confiar nas urnas, 42% disseram confiar “muito” e 31% confiam um pouco. Outros 24% afirmaram que não confiam, enquanto 2% não souberam responder.

Aos presentes, Bolsonaro alegou que a desconfiança dos brasileiros com o sistema eleitoral tem se avolumado. “O sistema eleitoral é completamente vulnerável”, declarou.

Defesa das propostas das Forças Armadas

Em seguida, saiu em defesa das propostas das Forças Armadas para as eleições, já negadas pelo TSE. “Estancam possibilidade de manipulação de números”, justificou o chefe do Executivo, que lembrou ter proposto o voto impresso para o Congresso. A ideia foi negada pelos parlamentares.

Na apresentação, o presidente citou nominalmente os ministros do TSE Edson Fachin, atual presidente da Corte Eleitoral, e Alexandre de Moraes, que assume o cargo em agosto. O ex-presidente do tribunal, Luís Roberto Barroso, também foi atacado por Bolsonaro.

Segundo o presidente, os três ministros atuam para difundir acusações infundadas sobre a atuação dele. Ele afirmou que Barroso e Fachin andaram propagando risco de instabilidade sem provas.

Bolsonaro chegou a exibir trecho de vídeo com voto do ministro Alexandre de Moraes avisando que não toleraria ataques às urnas nas eleições deste ano e que os agentes políticos correriam o risco de serem cassados e até mesmo presos. O presidente acusou Fachin de querer eleger o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e lembrou que Barroso foi advogado do terrorista Cesare Battisti.

Ao final da exposição, não houve aplausos. Os embaixadores saíram em silêncio.

Propostas das FFAA para as eleições

Nesse quesito, é importante destacar dois pontos. O primeiro foi o erro de Barroso, querendo fazer média, e agindo com boa fé, de ter convidados as Forças Armadas para participar do processo, a fim de sanar quaisquer problemas com as urnas eletrônicas.

Agora, Bolsonaro usa isso para tentar empurrar para missão que nada tem a ver com o papel dos militares em Estado Democrático de Direito.

O segundo ponto, ou erro, é que os militares participaram desse processo envenenados por fake news e ofereceram sugestões, a imensa maioria recusadas pelo TSE, porque eivadas de erros e equívocos, porque fundadas em mentiras, que circulam aos borbotões, nas redes bolsonaristas.

Moral da história: hoje, o ministro da Defesa, Paulo Sérgio Nogueira, que fez a principal apresentação aos embaixadores, repetiu a cantilena de Bolsonaro. Nogueira repetiu a exposição que fez na semana passada no Senado, na qual colocou a segurança das urnas eletrônicas em dúvida.

Marcos Verlaine

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