Contee entrevista o novo coordenador do FEESP, Reginaldo Soeiro
Na última terça-feira (29), o colegiado do Fórum Estadual de Educação de São Paulo (FEESP) elegeu a nova coordenação para o biênio 2016/2017. Em 2º turno, o professor do Instituto Federal de Guarulho e membro do PROIFES, Reginaldo Soeiro, foi eleito coordenador do Fórum. A Contee conversou com o professor sobre os desafios do FEESP, o Plano Estadual de Educação e a situação da educação em São Paulo. Confira abaixo.
Conte-nos um pouco sobre sua trajetória e sua atuação no Fórum.
Sou tecnólogo em Eletrônica Digital e trabalhei na área de computação por muitos anos, depois atuando na educação. Trabalho com escolas técnicas, dou aula em faculdades, e hoje estou no Instituto Federal de São Paulo. No Instituto, criamos a Associação dos Docentes do Instituto Federal do Estado de São Paulo (Adifesp), filiada ao Proifes-Federação. Em 2013, nos filiamos ao Fórum Estadual de Educação de São Paulo e desde então venho atuando no Fórum, inclusive na elaboração do Plano Estadual de Educação que falta ser aprovado. Na terça-feira (29), tivemos a eleição para a coordenação do FEESP e, com muita honra, fui eleito pelos pares.
Quais são/serão os maiores desafios para o Fórum?
Na sexta-feira, [1º de abril] já vou conversar com o Secretário de Educação e apresentar algumas necessidades do Fórum, como: um pedido para nos ajudar, diante da Assembleia Legislativa de São Paulo, a colocar como urgência o Plano Estadual de Educação e também para nos darem condições de acompanhar esse Plano; um assento para o FEESP no Conselho Estadual de Educação, uma vez que o Fórum representa uma grande parcela da sociedade, desde sindicatos, ONGs a outras entidades do terceiro setor; e um pedido de autonomia financeira para o Fórum, visando também a organização da etapa estadual do Conae em 2017.
O Plano Estadual de Educação (PEE) continua no legislativo e uma das críticas que sofreu foi a falta de um diálogo amplo com a sociedade. Além disso, o conteúdo apresentado pelo FEESP foi bastante alterado pela Secretaria Estadual de Educação, não contemplando, inclusive, discussões sobre questões de gênero e diversidade sexual. Como o senhor vê esse processo e quais são as suas considerações sobre o conteúdo atual do Plano?
Uma das coisas que pretendo fazer nesta semana é conversar com o relator do PEE sobre esse assunto e ver se nós conseguimos convencê-lo de que, principalmente a questão de gênero, é algo importante. Infelizmente, no Estado de São Paulo – na maioria dos Planos Municipais e no Plano Estadual –, a questão de gênero foi retirada. Os radicais da direita – e não vai aqui nenhuma crítica por serem de direita –, estão contra a questão de gênero porque eles só enxergam a questão dos homossexuais e transgêneros, só se preocupam com isso. Não deixa de ser uma parte importante, mas a questão de gênero é muito mais ampla, pois ela trata também da mulher e do direito à igualdade de condições de acesso ao trabalho, igualdade salarial em relação aos homens em todas as funções – sejam elas em empresas privadas ou públicas –, para que a mulher tenha mais possibilidades e visibilidade na sociedade. Isso também é importante na questão de gênero, tanto quanto os homossexuais, travestis e transgêneros. Vamos tentar melhorar esse acesso para que ele seja mais justo, equânime. É um ponto que me preocupa e que espero conseguir avançar nesse sentido com o relator do PEE.
Como o senhor vê a situação da Educação no Estado de São Paulo?
Temos em São Paulo mais de 20 anos de governo do PSDB e nesse período ele veio sucateando a educação. A última que aprontaram foi a reorganização escolar que, a bem da verdade, nada mais era do que o fechamento de muitas salas de aula em muitas escolas do Estado todo, transferindo os alunos para outras unidades, deixando escolas ociosas. A ideia deles é pegar todo o Ensino Básico e transferi-lo para o município, sobrando para o Estado apenas o Ensino Médio. Só que a Constituição não prevê a obrigatoriedade de fornecimento do Ensino Médio. O que a gente enxerga – isso já é teoria minha –, e que já aconteceu no governo do PSDB no Mato Grosso, – é que eles querem terceirizar o Ensino Médio para essas empresas que investem na Bolsa em educação, alegando que seria um ensino privado e com melhores condições. Só que não sabemos da qualidade, se realmente teremos melhores condições, se o aluno será melhor formado; não existe uma pesquisa que comprove isso. Não obstante, imagine o desemprego dos professores e técnicos-administrativos com a municipalização do Ensino Básico e a terceirização do Ensino Médio: seria um desastre. Fora a qualidade de ensino e a falta de respeito com o professor por parte do governo e que acaba refletindo nos alunos: “se o governo não respeita o professor, por quê eu [aluno] deveria respeitar o professor em sala de aula? Para quê vou estudar se existe aprovação automática?”. Basta fazer uma pesquisa na internet e é possível encontrar vários casos de professores sendo agredidos e desrespeitados por alunos. É uma série de coisas que são consequência de toda uma política de sucateamento da educação que só piora a nossa situação. Falo de São Paulo, mas se olharmos pelo país não veremos situações tão diferentes.
O que representa ter um professor coordenando um órgão tão importante quanto o Fórum Estadual?
Acho importante, não para mim, mas para a categoria em geral. Entro com uma outra visão, uma visão mais sindicalista e mais social para ajudar a educação, se preocupando com a educação das mulheres, dos índios, dos negros. É tudo isso que temos que pensar para facilitar e melhorar a educação. Todo mundo fala e virou chavão, mas é uma verdade: uma das soluções dos problemas desse país é a educação. Vamos trabalhar para isso.