“É a primeira vez que o sionismo está perdendo a batalha de narrativas”, diz Breno Altman

Fundador do site Opera Mundi foi o entrevistado do programa Contee Conta e falou sobre o massacre em Gaza e o genocídio sofrido pelo povo palestino

No Contee Conta desta segunda-feira (20/11), tivemos como convidado o jornalista e fundador do site Opera Mundi, Breno Altman. O programa, que teve como tema o título de um artigo de Altman — “Quem irá parar a mão assassina de Israel?” —, também contou com a participação do coordenador-geral da Contee, Gilson Reis, da  coordenadora da Secretária de Relações Internacionais, Cristina Castro, e da jornalista da Confederação, Táscia Souza. E a conclusão é de que essa mão assassina só será parada por uma série de fatores, que vão desde a resistência interna até a entrada de novos atores no conflito e do crescimento das manifestações contra as ações do governo israelense.

Antissemitismo x antissionismo

Para discutir o massacre em Gaza e o genocídio sofrido pelo povo palestino, o jornalista fez uma profunda contextualização histórica, incluindo sobre a confusão — muitas vezes propositada, para justificar os crimes cometidos pelo governo de Israel — entre os termos antissemitismo e antissionismo.

“Os judeus são um dos povos semitas. Semitas se referem a Sem, que foi um dos filhos de Noé, e usa-se o termo para identificar um grupo de línguas de uma mesma região da antiga Mesopotâmia. As únicas línguas ainda vivas neste grupo são o árabe e o hebraico, embora o hebraico moderno não seja o mesmo do hebraico clássico. Havia outras línguas que pertenciam a esse mesmo grupo linguístico, conhecido como  a família dos idiomas semitas. Por essa origem linguística é que se caracterizam os povos semitas, dentre os quais estão os judeus e os árabes”, explicou Altman.

Mas o fundador da Opera Mundi relatou que, historicamente, a palavra “antissemita” foi vinculada ao ódio contra os judeus. Breno Altman contou que esse ódio é antigo, desde que os judeus foram expulsos da Palestina pelo Império Romano, no primeiro e no segundo séculos depois de Cristo, indo morar em outros lugares, inclusive na Europa. A partir daquele momento nasce o ódio aos judeus. A despeito da complexidade da história, esse ódio tem muita relação com a função econômica que os judeus passaram a desempenhar.

Segundo Altman, na antiga Palestina, a grande maioria dos judeus eram agricultores. A partir da diáspora, acabaram se tornando mercadores e, com o passar do tempo, usurários. Por conta disso — pelo empréstimo de dinheiro a juros —, passaram a ser odiados pelas sociedades agrícolas da Antiguidade e da Idade Média.

“Mas isso não tem nada a ver com o sionismo, que é uma corrente político-ideológica que nasce no judaísmo apenas no século 19 (vira um movimento organizado em 1897). Ele propõe a criação de um estado judeu na Palestina, que era a terra ancestral dos judeus, mas que, ali no século 19, já era ocupada por ampla maioria do povo árabe-palestino”, explicou o jornalista.

“Então, se quisermos fazer uma comparação, quando a gente se refere a sionismo e a judeus, é a mesma coisa que se gente estivesse, nos anos 1920, nos referimo-nos a fascismo e a italianos. Nem todo italiano era fascista nem quem lutava contra o fascismo odiava italianos”, exemplificou.

O jornalista destacou que se pode ser antissionista, radicalmente antissionista ou até mesmo ser judeu e antissionista. “E isso não significa que você será antissemita, já que são coisas completamente diferentes. Pois antissemitismo é a perseguição racista contra judeus e o antissionismo é um combate a uma corrente judaica racista.”

Antissionista

Altman contou que sua posição contra o sionismo vem de muito tempo atrás, uma vez que sua família, tanto por parte de pai quanto por parte de mãe, é de judeus antissionistas, de tradição comunista. “Os judeus comunistas combatiam duramente o sionismo.”

Repúdio internacional

Sobre as inúmeras manifestações pró-Palestina ao redor do mundo, Breno Altman opina que, embora Israel calculasse que existiriam movimentos contra suas ações em Gaza, o governo israelense não previu um volume tão grande de repulsa ao Estado de Israel. “Creio que é a primeira vez que o sionismo está perdendo a batalha de narrativas e é a primeira vez que tenho notícias de um grupo tão numeroso de judeus que se coloca contra o Estado de Israel e contra o massacre do povo Palestino”, detalhou Altman.

Apesar disso, a coordenadora da Secretaria de Relações Internacionais da Contee, Cristina Castro, desabafou que “as emissoras brasileiras conseguem ser mais defensoras do Estado de Israel do que a própria imprensa de Israel” e que “chega a ser vergonhoso a ausência dos fatos reais sobre o que está acontecendo”.

Para o entrevistado, um dos motivos para os veículos de informações não estarem repassando as informações reais sobre a Palestina é o fato de reproduzirem, em grande maioria, aquilo que é publicado pelas agências de notícias norte-americanas ou europeias. “E essas agências estão sob influência do peso que a burguesia judaica sionista tem nestes setores, em especial nos Estados Unidos”.

A respeito da importância da pauta, o coordenador-geral da Contee, Gilson Reis, destacou que “estamos diante da guerra mais cruel da história recente da humanidade”. “Tivemos muitas guerras neste último período: ocupação do norte da África, Iraque, Irã, Kuwait, Síria… Temos uma enormidade de guerras nessas regiões, patrocinada sempre pelos mesmos interesses. Mas essa faz chegar em nossas casas a morte de milhares de crianças. U genocídio completo praticado pelo Estado de Israel, pelos sionistas e pela extrema-direita localizada naquele país”, indignou-se:

Assista à conversa completa:

Vitoria Carvalho, estagiária sob supervisão de Táscia Souza

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