Pelo protagonismo das candidaturas e das pautas negras nas eleições 2024

Em 2020, um terço dos prefeitos eleitos se declarava de cor preta ou parda. Nas câmaras municipais, das 58.208 vagas em disputa, quase 26 mil foram preenchidas por candidaturas negras

Escrevo este breve artigo com a intenção de destacar a importância do protagonismo dos negros e das negras nas eleições municipais de 2024 como um processo histórico de reparação dos danos causados por séculos de exploração e exclusão da população negra da vida política.

Sem adentrar nos séculos de exploração que a população negra sofreu desde 1550, quando foram trazidos forçadamente ao Brasil devido à escravidão, concentremo-nos nos acontecimentos mais recentes, nos quais as candidaturas negras têm desempenhado um papel fundamental na política nacional, reivindicando seu espaço de protagonismo para representar o povo brasileiro.

Em 2020, na última eleição municipal, um terço dos prefeitos eleitos se declarava de cor preta ou parda. O número representa 1.740 negros e negras à frente das prefeituras brasileiras – pouco mais de 32% dos mandatários municipais. Já nas câmaras municipais, das 58.208 vagas em disputa em 2020, quase 26 mil foram preenchidas por candidaturas negras – o equivalente a 44,6%.

Em relação à eleição anterior nos municípios, em 2016, houve avanço nos dois casos, o que elevou a participação negra na política. Ainda assim, persiste a sub-representação, já que, conforme o IBGE, 56,2% da população brasileira se declarava preta ou parda. Um dos poucos partidos que se destacam positivamente nesse desafio é o PCdoB: em 2020, quase 70% dos comunistas eleitos eram pretos ou pardos.

É preciso que, nas eleições 2024, o conjunto dos partidos brasileiros, especialmente os de esquerda, incorpore mais essa preocupação. Esta será a segunda eleição em que as legendas serão obrigadas a reservarem cotas específicas para candidaturas negras e a destinarem recursos para essas candidaturas.

Além da maior representação negra, devemos intensificar a luta para que a pauta antirracista vire um tema central da campanha. Manter em evidências nossas bandeiras de lutas é um passo decisivo para que prefeituras e câmaras não retrocedam nas conquistas significativas dos últimos anos e ainda acumulem avanços.

As candidaturas antirracistas devem ser igualmente democráticas e antifascistas. É crucial que segmentos historicamente privilegiados pelo racismo estrutural se juntem à luta por reparação histórica, abrindo espaço para negros e negras concorrerem a cargos políticos, especialmente aqueles com viabilidade eleitoral nos municípios.

Não estou sugerindo que devemos apoiar qualquer candidato negro, indistintamente. Devemos, sim, apoiar candidaturas negras comprometidas com o povo, em defesa da democracia, do bem-estar social e de partidos comprometidos com a promoção de um projeto nacional de desenvolvimento que inclua a erradicação do racismo e de todas as outras formas de opressão.

Faltam menos de oito meses para a eleição. É hora de abandonar de vez o mito da democracia racial e implementar uma democracia que verdadeiramente represente a diversidade do povo brasileiro, especialmente o povo negro.

Vermelho

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