Professores em greve não conseguem se vacinar em São Paulo (SP)

Prefeitura não entrega holerite de docentes que estão paralisados, mas cobra o documento para vacinar

Professores da rede municipal de São Paulo, que estão em greve desde o dia 15 de fevereiro, não conseguem realizar o cadastro para vacinação. A denúncia foi feita ao Brasil de Fato por dois docentes que trabalham em escolas de São Miguel Paulista e Freguesia do Ó, na zona leste e oeste de cidade, respectivamente.

Para que recebam o QR Code que devem apresentar no dia da vacina, os professores precisam preencher um formulário no Vacina Já, site do governo do estado de São Paulo, e enviar fotos dos holerites de fevereiro e março. Algumas escolas apontaram as faltas dos grevistas, que tiveram todo o salário descontado.

Acontece que o sistema da Prefeitura de São Paulo não gera holerite para os servidores com remuneração zerada. Dessa forma, os professores grevistas não conseguem completar o cadastro. Alguns recorreram à direção da escola, que enviou uma carta, autorizando a liberação do QR Code. Já em outras unidades os docentes enfrentam dificuldades.

“Aqui na escola, o diretor está alinhado com a DRE [Delegacia Regional de Ensino]. Ele não disse ‘não’, e está postergando o envio do documento. Enquanto isso, eles querem que eu volte a trabalhar, mas não me vacinam. É desrespeitoso. Mais um desrespeito com os professores”, afirmou um docente, de 49 anos, que trabalha na escola de São Miguel e que pediu para não ser identificado.

A Prefeitura de São Paulo colocou os professores no grupo prioritário da vacinação, e os docentes acima de 47 anos já podem receber o imunizante.

Um professor que leciona na Freguesia do Ó, com 53 anos, ainda não conseguiu receber a vacina. “Essa greve não é por salário, não é por condições de trabalho, é pelo direito de viver. O que a prefeitura quer é nos matar”, afirma.

Nelice Pompeu, representante do Movimento Escolas Sem Luto, que já foi vacinada, afirmou que essa é “mais uma estratégia do governo para atacar nossa paralisação” e confirmou que “há vários casos” de docentes que não conseguiram se vacinar.

“Eles devem pedir à direção um documento explicando porque o documento está zerado. Cortar o ponto é muito cruel, ainda mais na pandemia. Tive alguns casos de colegas que não conseguiram concluir o cadastro para receber a vacina e não tinham informações de como proceder”.

Maciel Nascimento, secretário de Educação do Sindicato dos Servidores Municipais de São Paulo (Sindsep-SP), informou que, de fato, há grevistas que não conseguem se vacinar.

“O problema maior em relação a essa questão do holerite é que se trata de uma ilegalidade. O holerite teria que conter informações como: ‘olha você teria que receber tanto esse mês, mas teve descontos de faltas’. A Prefeitura tenta usar isso como pressão para tentar desmobilizar a greve”.

A greve

Desde o dia 15 de fevereiro, professores da rede municipal de São Paulo estão em greve, contra a determinação do governo paulistano em abrir as escolas durante a pandemia.

O prefeito Bruno Covas (PSDB) voltou atrás na medida no dia 17 de março, após constatar o aumento no número de casos entre a comunidade escolar.

Desde o dia 13 de abril, as escolas funcionam em um esquema híbrido, com aulas presenciais e online, com prejuízo aos alunos que não possuem os meios eletrônicos para acompanhar os estudos.

Outro lado

Em nota enviada ao Brasil de Fato, o governo paulistado explicou que “o servidor poderá entrar em contato com a Unidade de Recursos Humanos de sua unidade e fazer a requisição de seu holerite, quando não há registros de pagamentos” e que o bloqueio para a geração de holerites zerados “é um mecanismo de segurança, para evitar fraudes”.

Brasil de Fato

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