Professores portugueses vão à luta com entusiasmo

Por Maria Clotilde Lemos Petta* 

“Neste mundo que nos convida ao desânimo, a palavra entusiasmo é uma palavra linda, de origem grega, que significa ter os deuses aqui dentro.” (Eduardo Galeano)

Portugal é um dos países mais atingidos pela atual crise do Capitalismo. O programa de ajuste estrutural do governo segue a determinação da Troika (comitê de três membros) – Comissão Europeia (CE), Banco Central Europeu (BCE) e Fundo Monetário Internacional (FMI). O resultado é um incessante crescimento da pobreza, da miséria e do desemprego que atingiu 17,7% no primeiro trimestre de 2013.

Recentemente, o governo apresentou um novo programa de cortes na educação, na saúde e na proteção social. Está prevista, entre outras medidas, a supressão de 30 mil funcionários de um total de 700 mil. O governo ainda estipulou o aumento da jornada de trabalho de 35 para 40 horas semanais, e também pretende mudar a idade mínima para a aposentadoria, que passaria de 65 para 66 anos. Em decorrência, crescem as manifestações de massas trabalhadoras em repúdio a essas medidas.

No início de maio, na companhia de Madalena Guasco, estivemos em Portugal e observamos de perto essa realidade. Além do belíssimo Ato do 1º de Maio, participamos, representando a Contee, do 11º Congresso da Federação Nacional dos Professores de Portugal (Fenprof). Foi uma experiência muito rica, que possibilitou o estreitamento dos laços de solidariedade com os professores em luta. O entusiasmo para a luta demonstrado pelos professores portugueses é impactante e merece ser destacado.

Na sessão de abertura, brilhantes intervenções reforçavam o lema do Congresso: “Afirmar a Escola Pública. Valorizar os Professores. Dar Futuro ao País”. Uma das notáveis comunicações foi o do reitor da Universidade de Lisboa, António Sampaio Nóvoa, muito aplaudido pelos mais de 600 delegados presentes no Ato. Nóvoa foi veemente: “Podemos prescindir de tudo, mas de nada quanto à valorização da Escola Pública e dos professores”.

A participação vibrante dos delegados no Congresso se refletia nas falas e palavras de ordem – “Fora daqui o FMI”, ”O povo unido jamais será vencido” – e nas referências à Revolução dos Cravos. Bonitas canções, como o Hino da Fenprof, Grândola Vila Morena e a Internacional Comunista, exaltavam a luta, reforçando o resgate dos valores da solidariedade e a unidade dos trabalhadores.

Na sessão de encerramento, o reeleito Secretário-Geral da Fenprof, Mario Nogueira, conclamou os professores à luta pela “demissão” do governo e responsabilizou o presidente da República Cavaco Silva pela atual situação da Educação e do país. Segundo sua avaliação, se o anteprojeto de proposta de lei do governo se concretizar, os milhares de docentes receberão, a partir de setembro, apenas 2/3 do seu salário. Encerrou sua fala citando os “indignados” da Espanha: “Se não nos deixam sonhar, não os deixaremos dormir”.

Tudo que nos vivenciamos fez lembrar as considerações de Galeano, escritor uruguaio, sobre o que observou nos manifestantes de Madri: “neste mundo que nos convida ao desânimo, a palavra entusiasmo é uma palavra linda, de origem grega, que significa ter os deuses aqui dentro”. Assim, voltamos ao Brasil, contagiados pelo entusiasmo dos professores portugueses em luta, mas também conscientes das grandes dificuldades e desafios que o atual quadro apresenta.

Maria Clotilde Lemos Petta
Diretora do Sinpro Campinas e coordenadora da Secretaria de Políticas Internacionais da Contee

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