Profissionais do ensino técnico paulista denunciam ameaças para suspender greve

São Paulo – Professores, funcionários e alunos das Escolas Técnicas Estaduais (Etec) e das Faculdades de Tecnologia do Estado (Fatec) denunciaram hoje (11) que têm recebido ameaças do Centro Paula Souza. A autarquia é responsável pelas unidades de ensino, responde ao governo de Geraldo Alckmin (PSDB) e adota, segundo os profissionais que realizaram ato de protesto na Avenida Paulista, o caminho errado para lidar com a greve. A paralisação do setor já dura 23 dias e conta com a adesão de 102 dos 322 centros educacionais.

Pelo menos 300 manifestantes de dez cidades paulistas seguiram em passeata até a Assembleia Legislativa para exigir aprovação das emendas que modificam o projeto de plano de carreira enviado à Casa pelo governo em 28 de fevereiro. Segundo o Sindicato dos Trabalhadores do Centro Paula Souza (Sintep), o documento – que começou a ser elaborado em 2011 por uma consultoria privada – propõe rebaixamento salarial e corte de benefícios como auxílio alimentação, auxílio transporte e plano de saúde.

As ameaças recebidas pelos professores e funcionários incluem corte de ponto e substituição de profissionais em greve, segundo o sindicato. “Devido à pressão, algumas unidades saíram, mas outras entraram, o que mantém a mobilização”, diz a tesoureira da entidade, Denise Rykala. “Estamos em uma corrida contra o tempo, porque temos até 5 de abril para aprovar o plano. Se isso não ocorrer, vamos ficar mais um ano sem o documento, devido ao calendário eleitoral.”

A professora de Língua Portuguesa Cristina Rick, da Escola Técnica Estadual Conselheiro Antonio Prado, em Campinas, denunciou que tem recebido ameaças em sua casa para retomar as aulas. “Quando o plano foi entregue à Assembleia chegamos a pensar em uma outra forma de mobilização que não a greve. Mas na sequência o Centro Paula Souza nos enviou um e-mail ameaçando cortar os pontos. Por conta dessa postura, decidimos manter a paralisação. Mesmo com as dificuldades, esse e-mail mostra que estamos incomodando.”

O deputado federal Ivan Valente (Psol), que participou do ato, criticou a “truculência” com que o governo Alckmin tem tratado professores e funcionários. “Não vamos arredar o pé até que o governo cumpra a sua promessa. Já levamos as emendas para o Congresso Nacional, para buscar apoio”, disse. A presidenta da União Nacional dos Estudantes (UNE), Virgínia Barros, lamentou as ameaças. “Essa é uma luta de todos, por um futuro mais democrático e próspero para São Paulo”, disse.

Pelo novo plano de carreira, todos os cargos terão perdas salariais em comparação com o que havia sido proposto em 2013, segundo cálculo do sindicato. A maior delas chega a 56,55% para os analistas técnicos administrativos e analistas técnicos educacionais. Os auxiliares e técnicos administrativos perdem 39,67%. A menor perda, para o chamado professor pleno II, de ensino superior, é de 9%.

Diferentemente do que havia sido acordado durante a negociação, em 2013, o plano de carreira de Alckmin não estabelece licença-maternidade de 180 dias nem a chamada sexta parte, um acréscimo de 20% no salário para os trabalhadores que completam 20 anos de casa. Tampouco leva em conta títulos como mestrado e doutorado dos professores para incrementos salariais.

“Para a minha categoria nem doutorado é levado em conta. Eu trabalho há sete anos na instituição e precisaria de mais 12 para conseguir uma evolução. O governo só nos dá giz e um livro didático e mesmo assim conseguimos ser uma escola de excelência. Estamos fazendo um bom trabalho”, disse a professora Cristina. “Eu não quero dar aula na escola particular porque lá vou reproduzir um discurso e uma apostila. Eu não me sinto educadora fazendo isso. Acredito na escola pública, mas está cada vez mais difícil continuar nela. A questão não é meu salário, é o projeto de futuro desse estado.”

“Para os funcionários, o plano de carreira retirou o auxílio creche. Além disso, só vamos conseguir um aumento, que é de R$ 56, daqui a dois anos. Isso se formos bem avaliados”, critica a auxiliar administrativa Karina Venturo, da Etec de Carapicuíba. “Pelo plano, só 10% dos professores das Fatec poderão se dedicar a pesquisa”, reclama a professora Rosangela Monteiro, do curso de Gestão da Produção Industrial da Fatec de Jaú.

Um levantamento feito pela RBA apontou que a rede administrada pelo Centro Paula Souza aumentou em 14 unidades nos últimos quatro anos, sendo 11 novas Etec e três novas Fatec. O montante para investimentos na expansão da rede, no entanto, não seguiu o mesmo caminho: o valor orçado para obras e compra de materiais nas Etecs diminuiu 16,9% entre 2011 e 2014. Nas Fatecs, a queda foi de 5,9%, segundo dados do programa Sistemas de Informações Gerenciais da Execução Orçamentária (Sigeo).

Nesse período, o montante orçado para o Centro Paula Souza aumentou 47,5%, passando de R$ 1.250.534.184 para R$ 1.843.598.055. O total aplicado nas escolas técnicas de níveis médio e superior superou o que tinha sido inicialmente previsto em 6,6%. A maior variação foi nas despesas previstas para pagamento de pessoal que, nos últimos quatro anos, aumentaram em 67,3%.

O orçamento de todo o Centro Paula Souza previsto para 2014 corresponde a cerca de um terço do destinado para a Universidade de São Paulo (USP) e a quase metade do da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e da Universidade Estadual Júlio de Mesquita (Unesp).

Da Rede Brasil Atual

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