As guerras como frutos do imperialismo e da sede de poder político e econômico

Por José Geraldo de Santana Oliveira*

“Eu não me ajoelhei diante de ti, mas diante de toda a dor humana”.

Este brado de angústia e de ceticismo é do grandioso romancista russo Dostoiévski, lançado ao mundo por meio do personagem principal da colossal obra “Crime e castigo”, Raskólnikov.

O dia 4 de agosto de 2014 foi o do centenário da Primeira Guerra Mundial, que se prolongou de 1914 a 1918. Portanto, este dia foi de reverência mundial à imensa e inapagável dor humana, de que fala Dostoiévski, na citada obra; pois que esta guerra, em decorrência da ganância sem limites dos governantes dos países que nela se envolveram, ceifou mais de 20 milhões de vidas humana, sendo quase metade de civis.

Esta guerra, como todas as outras que a antecederam e a sucederam – com exceção da que foi travada pelos escravos do Império Romano, liderados por Spartacus, a qual Voltaire e Karl Marx consideraram como sendo a única justa de todas quantas se realizaram –, não foi obra doa caso, mas, sim, da insaciável sede de poderio político e econômico.

Pode-se dizer dessa guerra o que disse Snyder – personagem da peça de Bertolt Brecht “A Santa Joana dos Matadouros”: “Pois hoje é voz corrente que a desgraça não é natural como a chuva e que ela é organizada por uns poucos que tiram proveito dela”.

Há de se acrescentar a estas sábias e diligentes palavras de Brecht que este proveito é tirado à custa de milhões de vidas humanas, que são exterminadas sem piedade, sem pudor e sem sentimento de dor e/ou de perdas.

Fazem prova dessa assertiva: a Primeira Guerra Mundial, ora sob comentários; a Segunda, que ceifou mais de 70 milhões; a das duas Coreias; a do Vietnã; a dos seis dias, em 1967, desencadeada por Israel; a do Afeganistão; a do Iraque; o massacre dos palestinos. Nenhuma delas teve qualquer outro propósito que não fossem o poder sem limites, lastreado no domínio econômico, político, social, científico, cultural e até mental.

Soma-se a isso a mais cruel demonstração de selvageria do imperialismo, tendo como alvo Hiroshima e Nagasaki, respectivamente, aos 6 e 8 de agosto de 1945. Ou seja, há exatos 69 anos.

Como a avareza e a crueldade do capital continuam vivas e crescentes, sendo a cada dia mais insaciáveis –apesar dos modernos métodos de acumulação, por ele desenvolvidos, consubstanciados no abandono, no desemprego, no subemprego e no corte sistemático de direitos sociais, que produzem, por um lado, o desmesurado enriquecimento de poucos, e de outro, a miséria absoluta de várias centenas de milhões de seres humanos –, é forçoso concluir que, desafortunadamente, no presente e no futuro, a humanidade ainda terá que reverenciar a sua mais intensa dor por incontáveis vezes.

Para que o futuro não seja um mar de muitas lamentações, como o foram os últimos cem anos, faz-se necessário que se rememore o canto dos “Boinas Pretas”, da realçada peça de Brecht: “Avante pois, ao assalto, com as frontes levantadas! Ânimo, ó náufragos da vida! Aqui estamos de mãos dadas”.

*José Geraldo de Santana Oliveira é consultor jurídico da Contee

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