Diante de pesquisa que mostra jornada exaustiva para mulheres, Contee ressalta igualdade de direitos e deveres entre trabalhadores e trabalhadoras

Das mulheres brasileiras que trabalham e ao mesmo tempo precisam cuidar da casa, 75% consideram o seu cotidiano extremamente exaustivo. Foi o que apontou pesquisa realizada pela organização feminista SOS Corpo e os institutos Data Popular e Patrícia Galvão, divulgada na semana passada pela Agência Brasil. Do total de 800 mulheres entrevistadas, 98% disseram que, além de trabalhar, precisam se dedicar à casa. Dessas, 63% recebem ajuda, 10% recebem ajuda paga e 27% estão sozinhas nos afazeres domésticos. A participação dos homens nessas tarefas é baixa: 71% das mulheres não contam com nenhum auxílio masculino.

“As mulheres vêm ocupando cada vez mais espaços no mercado de trabalho. Espaços estes que antes eram exclusivamente masculinos: frentistas, pedreiras, engenheiras, executivas… Enfim, são as mulheres mostrando seu valor e sua capacidade profissional e conquistando cada vez mais espaços, porém tendo que continuar a enfrentar o cotidiano de sua casa, as tarefas muitas vezes exaustivas: lavar, passar, cozinhar, cuidar da casa, dos filhos, do marido, da organização do lar, das compras domésticas. São tantos afazeres que a jornada passa a ser tripla”, destaca a coordenadora da Secretaria de Gênero e Etnia da Contee, Rita de Fraga Almeida Zambon.

Os principais objetivos da pesquisa foram avaliar como as mulheres brasileiras enfrentam a dupla – ou até tripla – jornada de trabalho e subsidiar políticas públicas que ofereçam apoio à mulher. As entrevistadas, com idade entre 18 e 64 anos, trabalham fora e foram ouvidas entre março e abril deste ano nos estados do Pará, Ceará, Pernambuco, Bahia, Minas Gerais, Rio de Janeiro, São Paulo, Paraná e Rio Grande do Sul, além do Distrito Federal. Uma pesquisa qualitativa também envolveu 80 mulheres de São Paulo e do Recife, no período de junho a julho deste ano.

Apesar da rotina corrida e da falta de tempo, 91% das mulheres consideram o trabalho fundamental para suas vidas. Entretanto, segundo os responsáveis pelo levantamento, o fato de a profissional precisar exercer uma jornada dupla ou tripla gera uma disputa injusta no mercado de trabalho. Para se ter uma ideia, 63% das entrevistadas concordaram com a ideia de que mulheres sempre ganham menos que os homens.

Outra questão apontada pela pesquisa, feito com base nos dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), foi a estimativa do valor do trabalho feminino dentro de suas casas. Se ele fosse pago, somaria R$ 67,5 bilhões por mês em todo o país.

“Hoje temos muitas dessas mulheres com papel fundamental dentro desses lares, muitas vezes são arrimo da família, a provedora financeira da casa. Contudo, as tarefas do tão doce lar ainda nos esperam, o educar dos filhos ainda nos aguarda, o descascar das batatas, o colher o feijão do jantar, o ferro de passar roupa, ufa!”, enumera Rita.

Nesse sentido, uma constatação positiva do estudo foi que as novas gerações poderão ser responsáveis por uma mudança desse cenário. Enquanto 27% dos homens entre 35 e 64 anos lavam louça, por exemplo, 40% dos que têm idade entre 18 e 34 realizam essa tarefa.

“Muito ainda deve ser mudado. Além de lutarmos por salários iguais em todas as áreas, já que mostramos competência, precisamos vencer cada vez mais os espaços machistas existentes em nossos lares e dividirmos as tarefas de nossas famílias, de nossas casas, de nossos filhos. Essas pertencem aos casais e não às mulheres. Essa mentalidade precisa mudar”, enfatiza a coordenadora da Secretaria de Gênero e Etnia da Contee.

Além disso, Rita frisa que “precisamos também investir em nossa qualificação profissional.” Conforme apontou a pesquisa, as principais melhorias reivindicadas são creche e transporte (cada um apontado por 16% das entrevistadas). Em seguida surgem emprego (14%), ensino para elas (10%), salário (8%) e escola para os filhos (7%).

“Tanto homens quanto mulheres precisam ter a chance de investir na sua profissão, ter seu espaço de crescimento profissional, ter seu espaço de conquista dentro e fora de casa”, ressalta Rita. “Afinal, isso é igualdade de direitos e deveres.”

Da redação, com informações da Agência Brasil

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