Marcha massiva em SP defende que Brasil corte relações com Israel
Parlamentares e ativistas presentes no evento pediram a Lula que lidere movimento global contra genocídio ao povo palestino

Milhares de manifestantes se reuniram na manhã deste domingo (15/06), em São Paulo, para pedir que Lula rompa relações diplomáticas e comerciais com Israel.
Os organizadores do ato afirmaram que esta foi a maior mobilização realizada no Brasil desde outubro de 2023. O coletivo Vozes Judaicas por Libertação estimou que cerca de 20 mil pessoas estiveram presentes. Por sua vez, o movimento Frente Nacional pela Libertação da Palestina calculou o público presente em 30 mil. Já a Polícia Militar afirmou que teriam sido pouco mais de 5 mil.
A atividade acontece depois do agravamento da crise humanitária em Gaza, da prisão dos ativistas da missão Flotilha pela Liberdade e da abertura de uma nova frente de guerra com o Irã na última sexta-feira (13/06).
“Estamos aqui para provar que estamos vivos. Nossos corações estão vivos. Temos lado e quem não tem lado nessa luta não é humano. Viva a consciência humana que está vibrando no coração de todos vocês”, disse um líder palestino-brasileiro em discurso no carro de som.
Os participantes começaram a se concentrar por volta das 11h na Praça Roosevelt, no centro da capital paulista. Ao lado de bandeiras de partidos políticos e de movimentos sociais, que integram a organização do ato, diversos cartazes feitos à mão por manifestantes puderam ser vistos.
Entre eles, havia denúncias sobre o papel tendencioso da grande mídia na cobertura do conflito, números de vítimas em Gaza, até expressões de apoio ao governo do Irã.
O clima foi pacífico durante todo o trajeto, que se estendeu até o Estádio do Pacaembu. No momento da saída da concentração, cerca de sete ônibus do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST) chegaram repletos de manifestantes, engrossando a massa de pessoas que passou a tomar mais de uma dezena de quadras da Avenida da Consolação.
“Fora Ianques da América Latina, Fora Israel das Terras Palestinas” e “Estado de Israel, Estado assassino, e viva a luta do povo palestino” eram algumas das palavras de ordem entoadas do carro de som e que atiçavam a multidão crescente.
Diversas figuras públicas, entre artistas, líderes de movimentos sociais e parlamentares estiveram presentes, como os deputados federais Rui Falcão (PT), Sâmia Bomfim (PSOL) e Guilherme Boulos (PSOL).
Thiago Ávila esteve presente
Uma semana após o sequestro da Flotilha da Liberdade, o brasileiro Thiago Ávila, que foi um dos tripulantes da embarcação capturada, esteve na manifestação, nas ruas de São Paulo.
A bordo do barco Madleen, Thiago e outros 11 ativistas pretendiam romper o bloqueio à ajuda humanitária a Gaza. Ele foi libertado após três dias em uma prisão israelense e deportado ao Brasil. O ativista desembarcou em Guarulhos (SP) na última sexta-feira (13/06).
“Nós estamos fazendo esse ato entre muita gente aqui, mas somos milhões no mundo inteiro hoje que decidiram dar um basta a um genocídio que é dirigido não por uma religião, mas por uma ideologia racista que se estruturou como Estado de colonização e apartheid (…) o que passamos [na operação Flotilha] é apenas uma fração do que milhares e milhares de palestinos sofrem”, disse o ativista.
Ao lado de outros atos organizados em cerca de dez capitais brasileiras, a manifestação de São Paulo integra um esforço global pelo fim do genocídio contra o povo palestino. A atividade coincide com a Marcha Global para Gaza, que deve chegar hoje na fronteira de Rafah, no Egito, com o enclave palestino, em uma nova tentativa de rompimento do bloqueio à passagem de ajuda humanitária.
Rompimento diplomático e comercial
Os parlamentares presentes foram enfáticos sobre a necessidade de que o Brasil assuma uma postura mais dura em relação ao regime israelense.
“Hoje estamos aqui para exigir que Lula rompa relações com Israel. Palavras são importantes. Demonstrações de solidariedade são fundamentais. Mas diante de um massacre, de um genocídio, do maior massacre que nossa geração já viu, palavras são insuficientes. É preciso criar um cerco contra Israel. Nosso aço e nosso petróleo também movem a máquina mortífera que hoje assassina o povo de Gaza”, disse a parlamentar Sâmia Bomfim.
Bomfim salientou que a “máquina sionista” está tentando calar ativistas e parlamentares brasileiros que vêm denunciando os crimes de guerra perpetrados pelo regime israelense. Organizações solidárias à causa palestina também vêm alertando sobre uma articulação internacional promovida pelo regime sinonista para sufocar críticas ao Estado de Israel.
“Hoje o mundo está presenciando o maior genocídio do nosso século. A nossa geração está vendo uma limpeza étnica acontecer ao vivo pelas redes sociais e pela televisão (…) isso não indigna quem já morreu por dentro. É importante o que Lula tem feito, mas precisamos dar um passo além e romper relações comerciais e diplomáticas com Israel”, reforçou Guilherme Boulos.
Breno Altman, jornalista fundador de Opera Mundi, disse que o esforço do Irã precisa ser reconhecido. “O exemplo de coragem do povo iraniano deve ser aplaudido por todos nós. O regime sionista precisa ter uma resposta militar para que esse Estado supremacista [de Israel] possa ser derrotado”, defendeu.
Altman lembrou que o Brasil receberá chefes de Estado para a Cúpula do BRICS no próximo mês, no Rio de Janeiro, e que o evento é uma oportunidade. Para ele, o Brasil pode assumir um papel de liderança no Sul Global na tomada de medidas concretas em relação aos crimes cometidos pelo Estado de Israel.
“É preciso passar à ação, e passar à ação é romper relações diplomáticas com Israel, expulsar embaixadores israelenses e declarar embargo a Israel. Lula pode liderar uma onda mundial de boicote, desinvestimento e sanções”, propôs o jornalista.