Pepe Mujica eterniza mudas de amor, esperança, dignidade e resistência…

Sete obras para compreender Mujica e a América Latina

Imagem gerada via IA

Pepe Mujica viajou para o céu em seu icônico Fusca azul. Partiu nesta terça-feira (13), deixando, em sua chácara, uma plantação de sonhos. Em seu lugar sagrado e de paz, onde o silêncio do campo se mistura ao som das ideias, colhem-se diariamente empatia, ternura e justiça social.

Mujica sempre foi um homem de fala expressiva e vida simples. Um latino-americano sem dinheiro no bolso, mas rico em humanidade, que governou o Uruguai sem luxo, desprovido de vaidades. Morou sem ostentação, pensou grande — com os pés e as mãos fincados na terra.

Pepe, o guerrilheiro, atravessou o tempo com propósito. Defendeu os mais pobres com bravura e ternura. Soube fazer o bom combate, sempre guiado pelos preceitos democráticos. Resistiu à ditadura com firmeza, sem jamais perder a poesia da alma. Um militante, um guerreiro das causas coletivas.

Homem sóbrio, de bagagem leve, fez história e revolução com o que tinha de mais valioso: a coerência entre o pensar e o agir. Nunca se deslumbrou pelo poder. Seu fascínio pela política sempre foi pautado no afã de contribuir com a construção de um mundo melhor e mais justo — erradicando a pobreza, diminuindo as desigualdades, abrindo caminhos para que todos pudessem viver com dignidade.

Para Mujica, a magnitude da política estava em olhar para os mais humildes e garantir o que é básico, mas tão negado: casa, comida, saúde, educação, lazer.

Dentre tantos pensamentos progressistas, Mujica acreditava que a educação não era apenas um direito, mas a chave para transformar sociedades. Defensor do desenvolvimento socioeconômico com justiça e equidade, nunca deixou de denunciar os excessos do capital e de defender os anseios dos trabalhadores e das trabalhadoras.

A vida humana, dizia ele, não pode ser reduzida a trabalhar e pagar contas. A vida pede tempo: tempo para amar e ser amado, para fazer o que nos impulsiona, para encontrar alegria e prazer no cotidiano. Com força, criticava o sistema capitalista opressor, que exalta o consumo e massacra os mais vulneráveis.

Seus ensinamentos reverberam em tantos idiomas. Suas palavras sábias seguem movendo corações e despertando consciências. “A vida escapa e se vai minuto a minuto, e não se pode ir ao supermercado comprar a vida. Então, lutem para vivê-la, para dar conteúdo a ela.” É possível ser feliz com pouco e fazer muito pelo próximo. Precisamos aprender a gastar nosso bem mais precioso: a liberdade de ser quem se é, permitindo que nossa essência exale seu perfume com sabedoria.

Não há vazio quando se vive a missão. A caminhada de Pepe ecoa em nossos ouvidos esta mensagem de plenitude:

A simplicidade preenche. A felicidade habita os pequenos detalhes do dia a dia. O ordinário é extraordinário. Repare. Agradeça. Viva! Espere, tolere, perdoe. Dialogue com respeito e doçura. O ódio maximiza os ressentimentos e nada edifica. O olhar atento transforma.

O semeador de crisântemos e de ideais humanitários deixou, em seu quintal, mudas prontas para serem espalhadas pelo mundo — mudas de amor, justiça, esperança, dignidade e resistência.

Lúcia Topolansky, sua companheira de todas as batalhas, ficou com as cartas: recomendações preciosas para que esse jardim de humanidade continue florescendo sem cessar.

Pepe agora está “encantado”, como dizia Guimarães Rosa. Quem luta pelo bem comum é imortal! Pepe está radiante, ao lado de sua cachorrinha de três patas, Manuela, que sempre o acompanhou em sua jornada de luta e doação.

Vamos multiplicar as mudas de amor, justiça, dignidade, esperança e resistência cultivadas com tanto carinho pelo querido e grande líder José “Pepe” Mujica. Seu exemplo nos ensina que é preciso plantar e cuidar desses valores diariamente, mesmo diante das adversidades.

Como ele disse em sua reta final: “É preciso trabalhar pela esperança, porque, quando esses braços se forem, haverá milhões de braços.” Que sejamos, então, esses milhões de braços, movidos pelo compromisso com um mundo mais justo e empático, inspirados pelo legado de um homem que fez da humildade e da ética o seu modo de vida.

Sete obras para compreender Mujica e a América Latina

A Confederação Nacional dos Trabalhadores em Estabelecimentos de Ensino (Contee) recomenda sete produções — entre livros e filmes — para aprofundar a compreensão sobre Pepe Mujica, sua trajetória política e o contexto latino-americano, tão presente em suas ações em favor da coletividade.

1 – Uma Ovelha Negra no Poder – Andrés Danza e Ernesto Tulbovitz

A biografia mais ampla de Mujica, fruto de dezenas de entrevistas com ele durante e depois da presidência. Uma análise honesta da sua trajetória, decisões e convicções.

2 – Pepe Mujica: De Tupamaro a Presidente – María Esther Gilio

Um retrato íntimo da vida de Mujica, centrado em uma longa entrevista. Nele, o ex-presidente fala com franqueza sobre seu passado, seus sonhos e os caminhos da política.

3 – Documentário: El Pepe, uma vida suprema – Dir. Emir Kusturica (Netflix)

Um mergulho visual na vida e nas ideias de Mujica, captando seu cotidiano, sua filosofia e sua maneira singular de existir.

4 – Pepe Mujica: o presidente mais pobre do mundo – Luciano Lamberti (org.)

Coletânea de artigos e entrevistas que revelam o pensamento político e ético do líder uruguaio.

5 – Palavras para Depois: Conversas com Pepe Mujica – Fabián Restivo

Lançamento recente no Brasil, esse livro reúne diálogos com Mujica sobre temas como juventude, política, amor e futuro — em tom pessoal, reflexivo e urgente.

6 – As Veias Abertas da América Latina” – Eduardo Galeano

Clássico indispensável para compreender o pano de fundo das lutas que Mujica travou: a exploração colonial, a dominação econômica e os ciclos de resistência no continente.

7 – Uma Noite de 12 Anos” – Dir. Álvaro Brechner (Netflix)

Filme que aborda a história de José “Pepe” Mujica e seus companheiros militantes presos e torturados durante a ditadura militar no Uruguai. A atuação de Antonio de la Torre como Mujica emociona, narrando a jornada de sobrevivência desses presos políticos, que enfrentaram 12 anos de isolamento e tortura.

Por Romênia Mariani

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