Qual a importância do voto?

Por José Geraldo de Santana Oliveira*

Muito se discute sobre a importância do voto. Para uns poucos, o voto não muda nada na realidade brasileira; estes, céticos quanto ao seu significado, nem sequer comparecem para votar. Para outros, sua influência é mínima; por isto, dão-lhe pouca importância. Para muitos outros, o voto é decisivo para definir os rumos do Brasil: se para melhor, se para pior. Para estes, é de fundamental importância a efetiva participação no processo eleitoral, escolhendo bem, com critérios, aqueles(as) que merecerão o seu voto, e, portanto, a sua confiança para dirigir os destinos da nação.

O cotidiano da vida tem mostrado e demonstrado que o voto é a mais poderosa ferramenta de todas quantas dispomos nós, os(as) cidadãos(ãs): por meio dele, escolhemos o Brasil que queremos, para a nossa geração e para as vindouras. Isto porque o que se faz em quatro anos, para melhor ou pior, tem reflexos diretos, não raras vezes, por décadas a fio.

Neste segundo turno da eleição presidencial, dois projetos disputam o Brasil, cada um deles possui o seu significado e os seus interesses, seja em prol da maioria, ou da minoria.

Ao meu sentir, o encabeçado pela presidente Dilma representa os interesses da maioria; e, o esposado por Aécio, a minoria, em certa medida, apeada do poder em 2002. Para comprovar esta assertiva, basta que se busquem as alianças e os apoios de um e de outro.

É bem verdade que o projeto representado por Aécio não diz, claramente, que vai beneficiar poucos em prejuízo de muitos, pois que isto lhe seria eleitoralmente desastroso. Ao contrário, procura mascarar os seus reais propósitos, travestidos de novos e sensíveis aos reclamos sociais, faz promessas de melhoria das sofridas condições de vida do povo, as quais não tem a menor intenção de cumprir; como, aliás, são testemunhos oculares os dois governos de Fernando Henrique (1995 a 2002) – seu mentor e guia político -, marcados pelo arrocho salarial profundo, com a substituição dos reajustes legalmente garantidos pela chamada livre negociação, sabiamente definida pelo jurista Benedito Calheiros Bonfim como o embate entre o pote de barro, representado pelos trabalhadores, e o de ferro, pelos patrões; por altíssimas taxas de desemprego e de precarização dos direitos  trabalhistas; pelo sucateamento das universidades públicas.

O projeto guiado por Aécio, com o devido respeito aos que, de forma sincera, pensam de modo diverso, faz lembrar a “PARADA DO NOVO E DO VELHO”, do imortal poeta e teatrólogo alemão, Bertolt Brecht:

“Eu estava sobre uma colina e vi o Velho se aproximando, mas ele vinha como se fosse o Novo.

Ele se arrastava em novas muletas, que ninguém antes havia visto, e exalava novos odores de putrefação, que ninguém antes havia cheirado…”.

Com todas as justas e merecidas críticas que se façam ao governo da presidente Dilma – notadamente quanto à arrogância e ao desprezo de algumas das bandeiras essenciais dos(as) trabalhadores(as), como a redução da carga horária semanal de 44 para 40 horas e o fim do fator previdenciário, monstro criado por FHC, que se alimenta dos minguados proventos de aposentadoria, chegando a abocanhar 50% destes -, sob a ótica da construção da cidadania, não há como  comparar o projeto de  Aécio com ele. Não há comparação.

O governo da presidente Dilma, apesar de não o fazer com o mesmo brilho, manteve todas as políticas de inclusão social e de integração com outros países, iniciadas pelo presidente Lula, tais como a política de valorização do salário mínimo, que retirou milhões da miséria nos últimos 12 anos, crescendo, em valores reais, mais de 72%; a criação de novos empregos formais, 20 milhões ao todo, contra 5 milhões de 1995 a 2002; a redução da taxa de desemprego de 12,5%, em 2002, para 4,9%, em 2014; a criação de 18 novas universidades federais, contra seis nos anos de FHC, passando de 148 para 321 campus, e de 114 municípios atendidos para 275; o ProUni, criado em 2005, já ofereceu 1,9 milhão de bolsas para alunos carentes.

Soma-se isto a queda do Índice Gini, que calcula as desigualdades sociais, passando de 0,581, em 2002, para 0,527, em 2011, o último dado disponível.  É de notar-se que quanto mais próximo de 1, maior é a desigualdade social, e vice-versa.

Assim, o voto em Dilma, no mínimo, representará a garantia de continuidade do que já foi conquistado, notadamente no campo da inclusão social. Ao reverso, será o voto em Aécio.

Aqueles que votarão em Aécio acreditando, com sinceridade, que ele encarnará as mudanças almejadas e que cumprirá as promessas de campanha, mesmo que não o queiram, correm o risco de fazer como a personagem do conto do escritor colombiano Gabriel García Marquez, com o mesmo título, que se alugou para sonhar. Isto porque uma eventual vitória de Aécio poderá converter-se em colossal tragédia social; pelo menos estes são os seus indicadores.

Por tudo isto, para que não tenhamos uma nova estadia no inferno, parafraseando o poeta francês Jean Arthur Rimbaud, não só voto em Dilma como recomendo aos que não desejam que o Brasil, econômica, social e politicamente, cresça como rabo de cavalo (para baixo), que também o façam; com expectativa de que o seu próximo governo mantenha as políticas de inclusão, levadas a cabo a partir de 2003, e que tenha a devida sensibilidade para as sentidas bandeiras dos(as) trabalhadores(as), constantes de sua histórica agenda, como a redução da jornada de trabalho sem redução de salário; fim do fator previdenciário; efetiva garantia de investimento de 10% do Produto Interno Bruto (PIB) na educação; dentre outras.

*José Geraldo de Santana Oliveira é consultor jurídico da Contee

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