Sinproep-DF: Reapropriação da força vital de estudantes impedimento de uso de celular em sala de aula

Por Lêda G. de Freitas

A Lei nº 15.100/2025 prescreve que crianças e adolescentes não poderão utilizar de forma descontrolada aparelhos eletrônicos portáteis, como celulares, nas escolas de educação básica públicas e privadas do país. Porém, os dispositivos eletrônicos poderão ser utilizados para atividades pedagógicas, bem como para fins de acessibilidade, inclusão, questões de saúde ou garantia de direitos fundamentais.

A referida lei está amparada em estudos realizados no Brasil e em outros países, os quais demonstram que o uso excessivo de aparelhos eletrônicos está afetando a saúde mental de crianças e adolescentes em todo o mundo. As pesquisas revelam o crescimento dos índices de ansiedade, depressão e autolesão. Além do mais, ressalta-se a indústria de captura da atenção pelas grandes empresas de tecnologias. Tal controle empreendido pelas empresas, conforme mostra no filme “O Dilema das Redes”, de Jeff Orlowski, as redes são programadas para que o usuário sinta prazer o tempo todo. Assim, os desenvolvedores dessas plataformas utilizam de fundamentos da psicologia comportamental, essencialmente, de esquemas de reforço. Desse modo, as redes sociais são recheadas desses esquemas de reforço positivos, como comentários e curtidas, entre outros, gerando dependências de telas nas crianças e adolescentes.

Neste contexto, a distração é permanente, e como afirma o economista Ladislau Dowbor, produz a fragmentação do nosso tempo de atenção. O uso compulsivo desses aparelhos eletrônicos tem nos deslocado da criatividade, da cultura, do tempo livre para sonhar e produzir outros modos de vida. Portanto, a proibição de uso indiscriminado de celulares nas escolas de educação básica é um chamamento para a reapropriação da força vital que, no atual contexto do capitalismo rentista e neoliberal, produz uma nova relação entre capital e trabalho, tendo como eixo a tomada da potência de ser, da força vital, da nossa capacidade criar, que são desviadas para a acumulação do capital.

Ver nossas crianças e adolescentes nos espaços escolares livres da caverna digital favorece a reapropriação do criar, cooperar e aprender juntos e, ao mesmo tempo, contribui para minimizar o sofrimento constante de professores que, além de terem que dar conta de tanto conteúdo, passam a maior parte do tempo em sala de aula disputando a atenção dos estudantes com as redes sociais. “Reorganizar o cérebro do povo”, como nos ensina Fanon, passa por ter nossas crianças e adolescentes desprendidos de máquinas, para que possam aprender com liberdade e construir capacidades cognitivas para intervir no mundo.

Do Sinproep-DF

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