Sobrevivente da chacina de Buffalo (NY) processa big techs por conivência com racismo nas redes

Conforme o processo, as gigantes donas de redes sociais nada fazem para conter, limitar ou excluir a massiva “propaganda racista, antissemita e supremacista branca” que estimula crimes hediondos

O processo de Latisha Rogers, sobrevivente do massacre de motivação racista no shopping Tops no ano passado em Buffalo (NY), e de três famílias de vítimas, foi apresentado no tribunal do estado de Nova Iorque na sexta-feira (12).

A denúncia acusa grandes empresas como a Meta, controladora do Facebook; a Amazon, proprietária da Twitch; a Alphabet, controladora do Google – proprietária do YouTube – e a Snap, proprietária do Snapchat, bem como Discord, Reddit e o 4Chan por abastecer o atirador Payton Gendron com “propaganda racista, anti-semita e supremacista branca”.

O advogado fundador do Centro para as Vítimas das Redes, Matthew Bergman, ressaltou que Gendron “foi motivado” a cometer seu crime hediondo sob a influência da propaganda racista, elementos que lhe foram inculcados ao longo do tempo via redes sociais. “Essas postagens o levaram a procurar sites cada vez mais radicais, onde ele foi doutrinado na teoria da substituição da supremacia branca”, assinalou Bergman, enfatizando que “esse crime horrível não foi um acidente nem uma coincidência, mas sim o resultado previsível da decisão intencional das empresas de mídia social de maximizar o envolvimento do usuário em detrimento da segurança pública”.

Conforme fundamentação do processo, as gigantes de mídia social nada fizeram para conter, limitar ou excluir a massiva “propaganda racista, antissemita e supremacista branca” em suas redes e que era previsível que situações como a chacina do supermercado Tops poderiam acontecer. Mas as redes sociais, na busca do engajamento que aumenta os lucros, preferem colocar em risco a segurança. E a falta de limite chega ao ponto em que o tiroteio de Buffalo foi transmitido em tempo real pela plataforma Twitch, com as imagens mostrando as pessoas sendo assassinadas. Entre as vítimas, uma mulher que estava do lado de fora do supermercado aparece sendo abatida com um tiro na cabeça.

Segundo o advogado Matthew Bergman, o processo contra as big techs controladoras de redes sociais por “homicídio culposo” no caso da chacina do supermercado Tops, com 10 mortos e três feridos, sustenta-se pela completa omissão dessas empresas frente às postagens que promovem e estimulam esse tipo de crime.

Antes de abrir fogo contra as pessoas que estavam no supermercado, Gendron escreveu um manifesto racista em que divulgou a teoria da conspiração da “grande substituição” da supremacia branca e afirmou ter escolhido o supermercado Tops por estar localizado numa comunidade predominantemente negra. “Se há uma coisa que eu quero que você entenda desses escritos, é que as taxas de natalidade dos brancos devem mudar. A cada dia a população branca diminui”, declarou o assassino.

Payton Gendron se declarou culpado das acusações que incluem terrorismo doméstico motivado por ódio em novembro e foi condenado em fevereiro à prisão perpétua.

A queixa foi apresentada pelo advogado civil de Buffalo, John Elmore, em nome das famílias das vítimas junto com o Giffords Law Center to Prevent Gun Violence (Centro Jurídico Giffords de Prevenção da Violência Armada) e o Social Media Victims Law Center (Centro Legal para as Vítimas da Redes Sociais).

As três vítimas cujas famílias entraram com a ação são Andre Mackneil, de 53 anos, um pai de cinco filhos, que estava comprando um bolo para a festa de aniversário do filho de três anos quando foi morto; Katherine “Kat” Massey, 72 anos, professora aposentada; e Heyward Patterson, 67 anos, diácono e guarda de segurança aposentado. Os parentes deram depoimentos em que reiteraram o impacto devastador do massacre em suas vidas e a responsabilidade das gigantes de mídia social.

Conforme relata o processo, Gendron não foi criado por uma família racista e não viveu em uma “comunidade radicalmente polarizada”, mas que foi exposto a “material racista, antissemita e de promoção da violência” que “causou sua radicalização [e] motivou-o a cometer violência racial”.

“Todos os dias ou a cada poucos dias, tudo o que você e ouve é um tiroteio em massa”, disse Massey-Mapps à ABC. “Você tem que começar de algum lugar, para que eles entendam a mensagem. Essas grandes empresas só sabem de uma coisa, dinheiro. Então, você tem que machucá-los. Quantas pessoas você quer ver mortas?”, questionou.

De acordo com a BNO News, o assassino racista publicou um manifesto de 106 páginas, em que se descreve como supremacista branco e antissemita, em que diz ter sido motivado pela “teoria da conspiração de que os brancos estão sendo substituídos por outras raças”. “Se há uma coisa que eu quero que você entenda desses escritos, é que as taxas de natalidade dos brancos devem mudar. A cada dia a população branca diminui”, disse o racista no manifesto.

Payton Gendron confessou ter que copiado o comunicado do assassino Brenton Tarrant, que cometeu um atentado similar na Nova Zelândia, em 2019, e que concordava com o que ele dizia.

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