No Brasil de Bolsonaro, salário de 2022 é menor que o de 2021

Empregos oferecidos hoje apresentam salário inicial menor que um ano atrás; senadores denunciam modelo excludente, à base de precarização

Brasileiro não tem um minuto de paz, costuma-se dizer. Mas quando se fala da condição de vida atual e da política de governo para a população mais pobre, não há expressão mais adequada. As famílias tiveram que superar a Covid e o descaso do Planalto, que negava a pandemia e a vacina; deixaram de comprar o de antes, porque a inflação corroeu os bolsos; se ganham o salário mínimo, têm que escolher entre morar ou se alimentar; e quem estava sem trabalho e persistiu na fila em busca de emprego, tem que se contentar com um salário menor do que se pagava, pelo mesmo serviço, um ano atrás.

Esse último dado foi confirmado em matéria publicada pelo site G1, nesta quarta-feira, com base em pesquisa feita no Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), do Ministério do Trabalho e Previdência.

O governo Bolsonaro não apenas acabou com a política de ganho real do salário mínimo, implantada pelo PT, como ajudou a achatar os demais salários. De acordo com o levantamento, o salário médio de contratação no país em empregos com carteira assinada foi de R$ 1.926,54 em julho, ou 2,82% a menos do que se pagava em julho de 2021 (R$ 1.982,55). Não se trata de valor corrigido, é o valor que está lá, escrito no contracheque.

Além de nominalmente menor, o salário teve o poder de compra atropelado pela inflação, que somou mais de 12% em um ano. Isso no índice oficial, porque o gás de cozinha, por exemplo, subiu 32% em 12 meses. Hoje, para comprar uma cesta básica, com itens de primeiríssima necessidade, o brasileiro deixa no caixa mais de 60% do salário mínimo.

A combinação de preços inflacionados com achatamento do salário mínimo e do poder de compra das famílias não sustenta o discurso de recuperação econômica propalado pelo ministro Paulo Guedes e aponta para uma desaceleração da economia no segundo semestre. A opinião é do economista Bruno Moretti, da Liderança do PT no Senado.

“Ante um mercado de trabalho com quase 10 milhões de desempregados, 40% de informalidade, inflação ainda muito elevada, você tem baixos salários e queda dos rendimentos, o que mostra que a recuperação econômica não é sustentável”, justifica Moretti.

Governo da precarização

O senador Humberto Costa (PT-PE) lembra que esse desarranjo começou antes da pandemia, e foi agravado pelo modelo econômico excludente do atual governo.

“Não temos mais valorização real do salário mínimo, as condições de trabalho estão cada vez piores, e o caos na economia empurra o emprego formal para uma redução ainda maior do salário de contratação. Isso em um cenário no qual os preços explodiram. Ou seja, a conta da bagunça promovida por Bolsonaro e Paulo Guedes está sendo paga pelos mais pobres e pelos trabalhadores” – destacou Humberto Costa, para quem a precarização do trabalho está mais evidente a cada dia, efeito, segundo ele, da Reforma Trabalhista aprovada após o golpe contra a presidenta Dilma Rousseff.

Um dos sinais dessa precarização é a geração de empregos com carteira assinada. Em julho, foram criadas 218,9 mil vagas formais, quase 30% menos que no mesmo mês, em 2021, quando 306,5 mil brasileiros conseguiram emprego “fichado”.

“A baixa contratação de trabalhadores é reflexo da ausência de políticas do Governo Federal para geração de emprego e renda. Somam-se a isso a precarização da legislação advinda da reforma do trabalho e a ampliação da terceirização, que contribuem para a redução dos salários e, por consequência, para a queda da massa salarial no Brasil. Principalmente, devido ao aumento gigantesco da informalidade e do trabalho intermitente”, analisa o senador Paulo Paim (PT-RS), que acompanha mês a mês os números do Caged.

Novo Estatuto

A pesquisa identificou ainda que entre os setores que pagam os menores salários de contratação estão comércio, alimentação, agricultura e pecuária. Mas, comparando as ofertas de trabalho, é possível achar salários de início menores até do que os disponíveis 10 anos atrás, em 2012, o que justifica a apreensão de Paulo Paim, autor de projeto de lei que cria o novo Estatuto do Trabalho, exatamente para combater a precarização.

“Precisamos resgatar os direitos dos trabalhadores e investir no ensino técnico para gerar empregos de qualidade e aumentar a renda dos trabalhadores e das trabalhadoras. Com certeza o governo Lula será fundamental na mudança desse cenário, colocando em prática um grande projeto de crescimento e de desenvolvimento para o país”, projetou o senador.

PT no Senado

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